Título: ONU dá aval para fábrica de urânio
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2004, O país, p. A6

A fábrica de enriquecimento de urânio de Resende começará a funcionar antes do fim do ano após receber a aprovação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A informação foi dada ontem pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. Com o aval da AIEA, a unidade nuclear de Resende será a primeira fábrica de enriquecimento de urânio no país.

Para que a usina entre em funcionamento, resta terminar o licenciamento de segurança por parte da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), o que deverá estar concluído até a primeira quinzena de dezembro.

Desde abril, a verificação da unidade nuclear por técnicos da AIEA tem sido motivo de conflito entre a agência, ligada à Organização da Nações Unidas, e o governo brasileiro, que não quis mostrar os aparelhos que produzem urânio enriquecido, fruto da tecnologia nacional. O caso ganhou repercussão internacional.

Durante as negocia-ções, o governo brasileiro propôs melhores condições de visibilida-de de tubos, válvulas e conexões, por onde entra e sai o material. A agência passou a considerar a hipótese de inspecionar a fábrica sem ''acesso irrestrito'' às instalações.

O principal segredo da tecnologia nacional de enriquecimento de urânio permaneceu desconhecido para os visitantes: as centrífugas. Organizadas em grupos denominados cascatas, as centrífugas brasileiras rodam sem eixo, sustentadas por campos eletromagnéticos.

Brasil, dono da sexta maior reserva de urânio do planeta, anunciou, ano passado, que começaria a enriquecer urânio a partir de maio de 2004 por meio da Indústrias Nucleares do Brasil. O governo anunciou também que, dentro de uma década, pretendia começar a exportar o produto.

O urânio extraído hoje no Brasil é enviado ao Canadá para ser transformado em gás e à Europa (Alemanha, Holanda ou Inglaterra) para ser enriquecido, voltando, então, ao Brasil. Nos dois módulos já em operação em Resende, o gás é transformado em pó e, posteriormente, em pastilhas. Quando o terceiro módulo, onde estão as centrífugas de enriquecimento de urânio, estiver funcionando, a etapa européia será aos poucos abandonada. Para operar, o Brasil esperava a aprovação da AIEA, concedida ontem.

O urânio enriquecido no país será utilizado principalmente para gerar energia nas usinas nucleares de Angra 1 e 2, além de algumas outras aplicações previstas no programa nuclear, como a medicina nuclear e a irradiação de alimentos.