Título: Petroleiro nacional sai caro demais
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 15/03/2006, Economia & Negócios, p. A20

Se depender dos preços apresentados ontem pelos estaleiros que disputam a licitação para construir 46 novos petroleiros, a Transpetro pagará preços até 100% mais caros que no exterior. Para evitar tamanho prejuízo para o contribuinte, o presidente da subsidiária de logística da Petrobras, Sérgio Machado, iniciará negociações nesta semana com a Usiminas - única fabricante brasileira de chapas de aço para esse tipo de empreendimento - para tentar reduzir, pelo menos parcialmente, os custos de produção das embarcações.

Os envelopes abertos ontem revelaram preços que variavam de R$ 50 milhões a R$ 151 milhões. Um levantamento da Transpetro, apresentado ontem, revela que, no mercado internacional, as mesmas embarcações licitadas têm preços que variam de R$ 25 milhões a R$ 80 milhões. Mesmo que o levantamento tenha levado em consideração valores das embarcações sem os acessórios exigidos pela estatal, ainda assim os estaleiros não conseguiriam preços compatíveis com o mercado externo.

Machado revelou ontem que a intenção é conseguir nivelar os preços o máximo possível ao patamar internacional. As conversas com os quatro consórcios participantes, segundo ele, começarão provavelmente em abril. Dependendo do resultado, o presidente da Transpetro admite a hipótese de promover nova tomada de preços que inclua os estaleiros desclassificados da concorrência, iniciada em 2004.

Ontem, foram abertos os envelopes de quatro dos cinco lotes de embarcações licitadas no Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro. O primeiro foi aberto no dia 10 de fevereiro, quando foram desclassificados os estaleiros Eisa e Keppel Fels, proprietário do Brasfels, de Angra dos Reis.

Foram entregues as propostas do consórcio liderado pela Camargo Corrêa, pré-classificado para disputar os lotes 1 e 2, que incluem, respectivamente, navios Suezmax e Aframax, de maior porte. O consórcio inclui, além da Camargo, as construtoras Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, além do estaleiro Aker Promar e a coreana Samsung. O consórcio disputa esses dois lotes com o Rio Naval (grupo MPE, Iesa, Sermetal e Hyundai), que também apresentou, desta vez sozinho, proposta para os navios do lote 3, que inclui embarcações do tipo Panamax.

Já o catarinense Itajaí foi o único a apresentar proposta para o lote 5, que inclui navios do tipo gaseiro e transportador de GLP. O lote 4, aberto em fevereiro, inclui navios para transporte de produtos. Apenas o consórcio que inclui o estaleiro Mauá-Jurong, de Niterói, Maric e a chinesa CSSC apresentou proposta na ocasião.

A desclassificação do Eisa e do Keppel Fels desagradou o governo do Rio de Janeiro, que protestou contra a decisão, ao argumentar que resultaria na perda de 15 mil empregos no estado. O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer, afirmou ''que poderá representar uma forte agressão ao estado do Rio de Janeiro''. Segundo ele, a decisão de classificar os chamados estaleiros virtuais - que ainda não têm base instalada, como o da Camargo Corrêa - ''afronta todas as práticas de licitação deste tipo que aconteceram no país e no mundo''.