Título: Lula não quer real forte
Autor: Janaina Leite e Jiane Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2004, Economia, p. A17

A interrupção da trajetória de baixa do dólar no mercado financeiro começou com a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgada ontem, de que o real precisa sofrer desvalorização para que as exportações aumentem e a economia possa se expandir pelo segundo ano consecutivo. Lula afirmou que o patamar ideal para o dólar ficaria entre R$ 2,90 e R$ 3,10.

- Eu acho que não queremos que o real se transforme numa moeda muito forte, que desvalorize o dólar. Para as nossas exportações é melhor que o dólar mantenha um certo equilíbrio. Fico vendo televisão e conversando com as pessoas, e penso que se o dólar estivesse a R$ 3, R$ 2,90, R$ 3,10 seria melhor para nossas exportações. Nós precisamos torcer para que as exportações continuem crescendo. Elas são uma das razões do sucesso do ano de 2004 e nós temos que trabalhar para isso - ponderou Lula.

Mas as declarações do presidente não se resumiram ao câmbio. Para ele, o Banco Central provavelmente retomará as reduções da taxa básica de juros no ano que vem, o que ajudará a sustentar a recuperação da economia do país.

- O crescimento tem que ser sustentável. O Brasil não pode crescer um ano e no outro ano decrescer - disse.

Lula disse ainda que não cederá a pedidos para aumentar os gastos a uma velocidade maior do que o crescimento da receita e que só elevará o salário mínimo quando o Brasil puder arcar com essa despesa.

- Nós vamos fazer aquilo que for possível fazer - disse Lula.

A economia brasileira cresceu 5,7% no segundo trimestre de 2004 em relação ao mesmo período do ano passado, seu ritmo mais acelerado desde 1996. Lula prevê que a economia terá expansão de 4,7% este ano e de mais de 3,5% em 2005.

- Se crescermos ano que vem 4,5% a 5%, se nós crescermos em 2006 4,5% a 5%, estaremos consolidando esse crescimento sustentável - disse Lula.

Mas o presidente também ressaltou que vai persistir na luta contra a inflação.

- A inflação traz um prejuízo enorme para a parte mais pobre da população. Vamos ser duros no cumprimento da meta.

Mas o combate à inflação não vai englobar corte excessivo de gastos, embora Lula admita que o governo vai continuar empreendendo apenas os gastos financeiramente viáveis.

- Não temos mais o que cortar. Essa é a verdade - disse.

O presidente comentou ainda que pretende voltar a seu apartamento de São Bernardo do Campo quando deixar a Presidência do país. Ele preferiu não comentar se vai tentar se reeleger para um segundo mandato em 2006.