Título: 'Olga' milita na direção do Oscar
Autor: Carlos Helí de Almeida
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2004, Caderno B, p. B1

Candidato oficial do Brasil a uma das cinco vagas na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, Olga não é mais uma anônima produção entre as 49 inscritas ao prêmio. O longa-metragem de Jayme Monjardim sobre a trágica saga de Olga Benário, revolucionária judia e mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes, ganhou o apoio incondicional do Simon Wiesenthal Institute, que administra, entre outras coisas, o Museu da Intolerância de Los Angeles. A poderosa associação, que tem forte influência sobre a comunidade judaica que, por sua vez, é presença marcante na indústria cinematográfica americana, vai promover em sua sede, no próximo dia 16, uma sessão de gala para o filme estrelado por Camila Morgado. Os finalistas ao prêmio serão anunciados em 25 de janeiro e a cerimônia de entrega está marcada para 27 de fevereiro, em Los Angeles. ¿ Foi na sala de projeção do Museu da Intolerância que aconteceu a primeira pré-estréia de A lista de Schindler, de Steven Spielberg. Para se ter uma idéia da influência do Simon Wiesenthal Institute, basta lembrar que foi o órgão que, em comunicado ao eleitorado californiano, inocentou o pai de Arnold Schwarzenegger de ligações com os nazistas, derrubando um dos principais focos de rejeição à eleição do ator austríaco ao governo da Califórnia, ano passado ¿ explica Bruno Weiner, um dos diretores da Lumière, a distribuidora brasileira de Olga, que chegou de Los Angeles com uma estratégia para dar visibilidade ao filme entre os votantes.

O impulso de Olga em direção ao Oscar começou no início do mês, no American Film Market, grande feira anual de produtos audiovisuais independentes montada em Los Angeles entre 3 e 10 de novembro. A publicist Fredel Pogodin, com vasta experiência na promoção de produções de língua não-inglesa indicadas ao Oscar, enxergou potencial no filme de Monjardim e o indicou à comissão do Simon Wiesenthal Institute. No final das contas, a empresa de Fredel, que preparou o caminho da vitória para títulos como Em nenhum lugar da África (Alemanha), Caráter e A estranha família de Antônia (ambos da Holanda), vencedores da estatueta em 2003, 1998 e 1996, respectivamente, acabou sendo contratada pela Lumière para tentar fazer o mesmo pela produção de Monjardim, já vista por mais de 3 milhões de brasileiros.

Em seu parecer, a relações-públicas americana, que também conseguiu colocar na final do Oscar títulos tão diversos quanto O crime do padre Amaro (México, 2002), Zus & Zoe (Holanda), O filho da noiva (Argentina, 2001) e Amores brutos (México, 2000), considera que a forma e o conteúdo de Olga podem encontrar eco no gosto dos eleitores da Academia de Artes e Ciências de Hollywood. Particularmente no caso daqueles que votam na categoria filme estrangeiro, cujo eleitorado, em geral, é composto por profissionais de meia-idade.

¿ Resolvi trabalhar para Olga porque o filme conta uma história fascinante, sobre a qual não estava familiarizada e que, tenho certeza, a maioria dos americanos não está. E, tradicionalmente, filmes sobre o Holocausto ou ambientados durante a 2ª Guerra são ingressos certos para o Oscar. Também levei em consideração os valores da produção, que são fortes, e a característica da narrativa, tradicional, bem ao gosto dos membros mais velhos da Academia ¿ avalia Fredel.

A projeção especial de Olga no Simon Wiesenthal Institute é apenas um trunfo extra, porém poderoso, dentro do planejamento proposto pela Fredel Pogodin & Associates. Entre outras iniciativas, a companhia americana prevê a promoção de outras sessões especiais do filme e a publicação de anúncios em edições especiais do Oscar em jornais e revistas especializadas, como a Variety e o Hollywood Reporter. Em suas primeiras reportagens sobre a corrida de filme estrangeiro deste ano, tais diários reconhecem que a premiação tem-se notabilizado pela imprevisibilidade. Lembram o páreo de 2003, que viu favoritos como o alemão Adeus, Lenin! e o afegão Osama ficarem sem indicações e, para este ano, que promete novas surpresas, sugerem que os votantes da categoria fiquem atentos aos predicados de alguns títulos, como a participação de Fernanda Montenegro em Olga: ¿O épico de Jayme Monjardim sobre a ativista comunista Olga Benário Prestes é um filme em grande escala sobre a 2ª Guerra Mundial com conflito político e nazista, que oferece como bônus dramático a presença da indicada ao Oscar Fernanda Montenegro¿, descreve a Variety.

Ironicamente, a indicação (não convertida) de Fernanda, por seu desempenho em Central do Brasil, de Walter Salles, em 1998, agora vai funcionar como valor agregado para o filme de Monjardim.

Um veterano observador da corrida do Oscar de melhor filme estrangeiro disse em recente edição da Variety que a imprevisibilidade sempre foi uma das características mais marcantes da categoria. Mas alertou que a disputa do ano passado ¿foi tão cheia de surpresas que a gente quase desiste de tentar adivinhar qualquer coisa¿. Este ano, não há barbadas concretas, como o canadense As invasões bárbaras, de Dennys Arcand, o vitorioso este ano. Em relação à lista de candidatos oficiais de 2003, a presente oferece pelo menos uma vantagem para Olga: as inscrições caíram de 56, um recorde, para 49.