Título: A vitória da ilegalidade
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2006, País, p. A5

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) - que confessou ter sacado R$ 50 mil da conta de Marcos Valério Fernandes de Souza para usar como caixa 2 - conseguiu escapar da cassação ontem no plenário da Câmara. A Casa aguardava com ansiedade a votação do parecer demolidor de Cézar Schirmer (PMDB-RS) que pedia a cassação do ex-presidente da Câmara. Logo no início da sessão, os registros eletrônicos já informavam a presença de 264 deputados. Número bastante considerável, num dia em que o Congresso fervia com a votação do parecer final da CPI dos Correios. No total foram 483 votos, 256 contra a cassação do petista, 209 a favor, nove abstenções, sete em branco e dois nulos.

O primeiro a falar na sessão foi o relator Cézar Schirmer. Para o plenário atento, Schirmer apresentou seus argumentos para pedir a cassação e mesmo não tendo a maioria a seu favor, conseguiu arrancar aplausos. Com serenidade, Schirmer disse estar convicto da culpa do petista, mesmo lamentando a condenação em função de sua história de vida.

- Os atos atribuídos ao senhor João Paulo Cunha são amargos, indiscutíveis, e incontestáveis - afirmou.

Em vinte minutos de discurso, o relator pontuou todas as acusações que pesavam no processo contra João Paulo. Lembrou que as investigações se concentraram nas ''contradições do representado '', que se comprovaram com documentos reunidos pela CPI dos Correios e ainda por aqueles oferecidos pela própria defesa. Com o mesmo preciosismo que revelou em seu relatório, Schirmer ofereceu ao plenário algumas das contradições por ele verificadas. Como por exemplo, a alegação de que a mulher de João Paulo teria ido ao Banco Rural - no mesmo dia em que consta o saque das contas do valerioduto - apenas para reclamar de uma cobrança indevida de tv a cabo.

- Não é assim que acontece na vida real. A reclamação em função de uma conta pode ser feita por meio de um 0800, de uma ouvidoria, ou mesmo com a empresa de tv a cabo. Ir até o banco para reclamar de uma conta, e ainda mais após o expediente bancário, não me parece algo razoável - afirmou.

O relator também não desperdiçou a oportunidade para responder às acusações que sofreu de João Paulo ainda no Conselho de Ética. Naquela ocasião, o petista perdeu o controle e chegou a chamar Schirmer de mentiroso, preconceituoso e dissimulado.

- O senhor não me conhece. Não somos iguais, Não respondi a suas agressões porque as atribuiu ao calor das emoções - afirmou o peemedebista.

João Paulo subiu a tribuna cabisbaixo. Pediu desculpas pelo comportamento, mas continuou posando de vítima. Negou que houvesse participado de qualquer irregularidade nas contratações e licitações enquanto presidente da Câmara, e refutou todas as acusações apresentadas no relatório aprovado no conselho.

Queria que o histórico fosse considerado como um ponto positivo. Para ele, a pior das punições já havia sofrido: a repercussão das acusações.