Título: Campanha pelo fim da esmola
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2006, Rio, p. A9
O chefe da 2ª Inspetoria da Guarda Municipal, Carlos Cristo, afirmou ontem que o programa Leblon Legal, previsto para ser lançado depois da Páscoa, só dará certo se os moradores de Leblon e Ipanema pararem de dar esmolas. O inspetor criticou a postura de algumas pessoas que incentivam a presença de uma legião de pedintes ao ofertar donativos dos mais variados tipos. Há um mês, a patrulha da GM percorre diariamente, das 8h às 17h, as ruas dos bairros para recolher colchões, cobertores, lençóis e lixo deixadas pela população de rua. - Para levarmos essas pessoas aos abrigos da prefeitura precisamos do apoio de técnicos da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS), caso contrário fazemos o recolhimento e orientamos esse pessoal a voltar para casa, mas não adianta: eles são teimosos porque sabem que irão faturar graças às esmolas - observou.
Cristo garantiu que a população de rua em Ipanema e Leblon profissionalizou a esmola. Segundo ele, a ocupação do espaço urbano acontece de segunda a sexta-feira, ao longo das avenidas Ataulfo de Paiva, no Leblon, e Visconde de Pirajá, em Ipanema, onde a presença de menores e pedintes diminui nos fins de semana. O fenômeno tem explicação: técnicos da SMAS constataram, em novembro, que adultos e crianças vêm de municípios da Baixada Fluminense e, em menor parte, de comunidades carentes da Zona Norte.
- Outro dia recolhemos o colchão de uma pessoa pela manhã e, à tarde, ela apareceu com outro. Ou seja, alguém doou. Não dá para armazenar esse tipo de coisa em qualquer lugar - constatou.
O programa de combate à desordem urbana no Leblon e Ipanema ganhou mais força ontem. A Guarda Municipal confirmou ao JB que participará da iniciativa com parte do efetivo de 400 agentes lotados na 2ª Inspetoria da Guarda Municipal. Responsáveis por R$ 107 milhões da arrecadação de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em 2004, os moradores do Leblon e Ipanema são os que mais reclamam do mal-estar social provocado pela presença de pedintes, camelôs, flanelinhas, catadores de papelão e menores de rua.
- O Leblon Legal chega em boa hora para que o direito dos moradores seja preservado, mas é preciso conscientizar as pessoas sobre seus deveres também. Falta educação aos moradores - opinou Evelyn Rosenzweig, presidente da Comunidade Alto Leblon. Responsável pela campanha Leblon Consciente lançada há quatro meses, Evelyn aguarda o anúncio oficial do Leblon Legal para entrar na segunda etapa da iniciativa, que também condena a distribuição de donativos à população de rua. O conselho do primeiro mandamento do projeto indica que as doações devem ser feitas às instituições especializadas em cuidar de crianças e idosos, cadastradas nas secretarias municipal e estadual de assistência social.