Título: 'Made in' Praça de San Jacinto
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2006, Internacional, p. A13

Além de prédios históricos e edifícios dos Três Poderes, quem caminha pelo centro de Caracas encontra uma profusão de barracas de camelô. São mais de 400 em todas as ruas adjacentes às praças Bolívar e San Jacinto. Mas, ao contrário do que acontece no Rio de Janeiro, o comércio informal convive em paz com as forças de ordem. Homens da Guarda Nacional apenas pat rulham a área, sem interferir no trabalho. Mesmo que parte das mercadorias à venda seja contrabandeada.

Elisenda, como preferiu se identificar, trabalha há um ano e meio em uma das esquinas da Praça San Jacinto, apelidada de ''O Venezuelano''. Seus principais artigos são os casacos esportivos com os logotipos da Adidas e da Nike bordados na frente. Nenhum é original. Todos vêm da China.

- Pelo menos duas vezes por mês chega um navio carregado de mercadorias chinesas. Ficamos sabendo onde vai aportar poucos dias antes, para preparar a viagem. Nunca repete o porto duas vezes seguidas - revela a mulher, que vende os casacos femininos para neve por 70 mil bolívares (R$ 70) e os masculinos por 80 mil (R$ 80). Nas lojas, eles não saem por menos de 120 mil bolívares (R$ 120).

A camelô não sabe dizer se a polícia venezuelana participa do esquema de contrabando. Mas afirma que, às vezes, o barco chega também na Colômbia.

- Deve acontecer alguma inspeção nos portos daqui. Quando é assim, as mercadorias atravessam da Colômbia para a Venezuela por terra - conta.

A duas ruas da tenda de Elisenda, vende-se mais abrigos esportivos, também imitando Nike e da Adidas, mas desta vez, com os emblemas de times de futebol

espanhóis - os preferidos neste país onde o beisebol é o esporte número 1. Refletindo a recente má fase do Real Madrid, o casaco branco sai por 55 mil bolívares (R$ 55), enquanto o do Barcelona ''de Ronaldinho'', como frisou o vendedor,

custa 70 mil bolívares (R$ 70).

Nas barracas, também há muitos prendedores de cabelo e cintos com a marca da

grife francesa Louis Vuitton.

- São feitos aqui mesmo - confirma um comerciante informal.

As barracas que mais chamam atenção do público, no entanto, são as de discos de DVD, também piratas. E na hora de comprar, a população de Caracas sente menos no bolso do que os cariocas. No centro do Rio, os DVDs de lançamento costumam custar R$ 10. Na capital venezuelana, já era possível encontrar desde domingo, por 3 mil bolívares (R$ 2), o desenho animado A era do gelo 2 - que estreou no fim de semana no Brasil e na Venezuela. Ainda por menos da metade do preço brasileiro, há as promoções ''combo'': 4 filmes em um DVD, por 3.500 bolívares. (R$ 3,50)

- Baixamos os filmes da internet - disse Carlos, que trabalha perto da Praça Bolívar. - O mais vendido esta semana é o combo A era do gelo (1 e 2), A terra dos ursos e A marcha dos pingüins.

Só na manhã de ontem, foram sete as unidades vendidas em sua barraca, que tem televisão para que os fregueses testem a qualidade do DVD. Na hora do almoço, dezenas de pessoas paravam um pouco em frente à telinha, para assistir ao lançamento. A 400 metros dalí, um cinema exibe o longa de animação, com ingressos a 6 mil bolívares (R$ 6).