Título: Força para fechar Golfo
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Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2006, Internacional, p. A14

O Irã realizou ontem mais um teste com uma nova classe de míssil, capaz de ser lançado de qualquer veículo militar terrestre, aéreo ou marítimo. Os exercícios têm demonstrado que o país tem condições de ameaçar o suprimento de petróleo para o Ocidente, segundo estrategistas e especialistas em segurança internacional.

Os testes iranianos acontecem desde sexta-feira no estreito de Ormuz, acesso do Golfo Pérsico ao oceano Índico, por onde passa um quinto da produção mundial de petróleo. Os navios petroleiros que escoam a produção da região levam, diariamente, 16 milhões de barris vindos de países como Iraque, Kuwait, Bahrein e Arábia Saudita.

Esta semana, o preço do barril de petróleo beirou os US$ 68, movido pelas preocupações com o Irã e as sabotagens da guerrilha na Nigéria.

Especialistas consideram que o poder militar iraniano já é suficiente para bloquear o trânsito de navios no local, usando minas marítimas, mísseis, torpedos e embarcações militares leves. Para o consultor Andrew Koch, de Washington, os EUA não teriam tempo hábil para reagir a um possível bloqueio do estreito de Ormuz.

- Não há muita margem de manobra - comentou.

O receio das potências ocidentais é confirmado pelos militares iranianos, que têm feito repetidas declarações ostentando seu poder de fogo.

- A marinha da Guarda Revolucionária distribuiu diferentes classes de mísseis terra-mar e sistemas inteligentes de projéteis ao longo de 2 mil quilômetros da costa do Golfo Pérsico, para defender nosso litoral e ilhas de qualquer invasão estrangeira - disse o general Rahim Safavi, comandante do corpo de elite das forças armadas iranianas, ao jornal Ettela'at, de Teerã.

Segundo a televisão estatal do Irã, o míssil testado ontem seria uma arma ''ultra-secreta'' que dispensaria o sistema Over-The-Horizon Detection, usado pela maioria dos foguetes para atingir seus alvos.

- É um míssil que pode ser lançado de qualquer tipo de unidade militar, especialmente de helicópteros - afirmou o general Ali Akbar Ahmadian, chefe do Estado-Maior da Guarda, ressaltando que a arma foi projetada no Irã.

As manobras militares e testes de armamentos do Irã começaram depois que o país passou a sofrer pressões para interromper seu programa nuclear. Os exercícios acontecem às vésperas da chegada, amanhã, de uma equipe de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).