Título: Recuperação da Varig sem teto
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 06/04/2006, Economia & Negócios, p. A17

Dias ainda mais turbulentos esperam a Varig. Pedidos para mudança do comando e ameaças concretas de parar a companhia aérea até o fim da semana foram discutidos ontem, depois que a Assembléia de Credores aprovou o Banco Brascan como gestor do Fundo de Investimentos e Participações (FIP) que responderá pelo controle da empresa.

Os credores da companhia estudam enviar à 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, onde corre o processo de recuperação judicial da Varig, um pedido de antecipação da saída do gestor interino da companhia, Marcelo Bottini, que ficaria apenas com a presidência. A escolha do Brascan significa na prática que a instituição assumirá a gestão da companhia assim que for criado o FIP-Controle, o que deve levar cerca de dez dias.

A opção geral, no entanto, é pela saída imediata de Bottini do cargo de gestor, para que ''uma gestão realmente profissional assuma o comando da empresa'', nas palavras de um dos principais credores da Varig.

A pressa para a saída de Bottini se justifica pela situação do fluxo de caixa da empresa, que leva a rumores de paralisação imediata nas operações.

- Medidas de redução de custos deixaram de ser tomadas e agravaram mais ainda a situação. Infelizmente, para salvar a empresa, alguns ajustes têm que ser feitos - diz o mesmo credor, referindo-se a demissões previstas no plano de recuperação aprovado em dezembro e ainda não efetuadas pela administração.

Bottini se mostrou tranqüilo em relação a sua provável saída. Segundo ele, o processo de entrada de novos gestores já teria sido desenhado desde a aprovação do plano de recuperação.

- É bom agilizar a mudança, mesmo antes da constituição do FIP. Estamos perdendo tempo, enquanto a empresa está com uma situação muito delicada de fluxo de caixa - disse.

O juiz Luiz Roberto Ayoub, titular da 8ª Vara Empresarial, foi cuidadoso ao comentar o pleito dos credores, que até o início da noite de ontem não havia chegado ao Tribunal de Justiça do Rio.

- Antecipar a saída do gestor é perfeitamente possível. Se os credores se manifestarem neste sentido, não vejo nenhum óbice legal a esta antecipação - afirmou.

Com a substituição do gestor interino, o Brascan e a consultoria Alvarez e Marsal, que atua em conjunto com o banco, estarão aptos a nomear um novo Conselho de Administração para a Varig, o que deve levar à saída de Bottini também da presidência da empresa.

O presidente da Varig, inclusive, passou o dia de ontem negando que a empresa estivesse na iminência de paralisar as atividades. O executivo confirmou o envio de correspondências eletrônicas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, mas negou que o teor dos e-mails fosse a ''situação limite'' do fluxo de caixa da empresa.

- Solicitei ao presidente Lula que nos recebesse para que apresentássemos o plano de recuperação e as perspectivas atuais - disse. - A gente já fala nesse risco de a empresa parar há uns dez anos. Precisamos de um investidor para dar continuidade à recuperação.

Mas Bottini não escondeu que o fluxo de caixa segue, segundo suas palavras, ''bastante limitado''.

- Por isso temos pressa para uma solução.

Só que a pressa pode não significar a salvação. A Infraero já enviou correspondência à Varig informando sobre o débito de R$ 115 milhões não quitado em tarifas aeroportuárias. Além disso, a empresa não cumpriu o acordo para retomar o pagamento, de R$ 900 mil diários, desde a última segunda-feira.

Fontes ligadas à estatal afirmam que a Varig corre o risco de se deparar, ainda esta semana, com a cobrança à vista das tarifas aeroportuárias antes do início de cada vôo. Desta forma, em uma linha Rio-Brasília-Manaus, a empresa teria que pagar por todo o trecho antes da decolagem, na capital fluminense.