Título: Proliferação do ensino é polêmica
Autor: Ines Garçoni e Leandro Mazzini
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2006, País, p. A4

A polêmica em torno das faculdades particulares cresce à medida que mais alunos procuram essas instituições em detrimento do pouco investimento no ensino. Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciar criação de mais quatro universidades federais, o governo ainda é ineficiente na questão e os deputados, em vez de pleitear instituições públicas para os redutos, inauguram as próprias faculdades e ganham dinheiro.

- Trata-se da regra de privatização do Estado que ocorre no país. Se estas comissões dialogam com este ou aquele interesse através do Legislativo, o Estado está sendo apropriado para fins privados ou menores - critica o filósofo Roberto Romano, da Unicamp, especialista em ética na política.

Romano simplifica a questão com uma expressão que cabe à lógica desse fato: trata-se de ''conflito de interesses''. É o jogo do público contra o privado, destaca o filósofo. Na Comissão de Educação e Cultura, os interessados pelas entidades particulares esforçam-se em fazer o lobby para conquistar benefícios fiscais e expandir suas unidades educacionais, além de obterem registro no Ministério da Educação para novos cursos e aberturas de campi. Os políticos sabem também que o setor, além das receitas milionárias, é uma grande oportunidade de conquistar o apoio dos eleitores em suas regiões.

- Na medida em que temos representantes do povo que são empresários de educação, criamos uma combinação sinistra. É evidente que eles vão tratar de defender seus interesses econômicos - observa o educador Rubem Alves.

O senador Cristóvam Buarque (PT-DF), ex-ministro da Educação no governo Lula, aponta um possível caminho para solucionar o problema:

- É preciso modificar o regimento interno da Câmara e vetar a participação de empresários em comissões que seriam de seu interesse.