Título: Filão de alunos e votos
Autor: Ines Garçoni e Leandro Mazzini
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2006, País, p. A4

Até pouco tempo atrás, milhares de estudantes deixavam cidades onde viviam para tentar a sorte nos vestibulares de universidades públicas metropolitanas. Poucos aprovados tinham a chance de se sustentarem longe da família enquanto buscavam um diploma. O tempo e as concessões provaram que há campo de sobra para a farra dos diplomas entre os políticos. O último Censo da Educação Superior, com base em dados de 2004, mostra que o número de alunos em faculdades particulares é quase o triplo do total matriculado nas instituições públicas. São 2,98 milhões contra 1,17 milhão. As faculdades particulares também aparecem em número superior. Somam 1.789 instituições. As públicas não passam de 224.

Os campi das particulares, com edifícios modernos e bem estruturados, laboratórios de última geração que não deixam a desejar frente a grandes universidades, cada vez mais são chamarizes para novos alunos - e votos. Dois exemplos são suficientes para comprovar esse poder, com base nos dados das eleições de 2002. Em Barbacena (MG) e cidades vizinhas, seu reduto eleitoral, Bonifácio de Andrada, dono da Unipac, foi eleito com 129 mil votos. Clóvis Fecury, dono da Uniceuma (São Lúis), foi para Brasília com 83 mil votos. Não que todo universitário tenha a preferência por eles nas urnas mas, levando-se em conta os 20 mil alunos que estudam na Unipac (reduto de Bonifácio) e os 15 mil da Uniceuma, na capital maranhense, boa parcela desse contingente pode favorecer os políticos nas eleições, explicam cientistas políticos.

O fato de as metrópoles oferecerem variadas opções de cursos e preços faz a concorrência optar também pela oferta nos rincões. No interior, onde se tem menos oportunidades de ensino, o deputado que cria faculdades e abre caminho para o diploma universitário para estudantes das classes baixa conquista uma imagem positiva. Surge como o empreendedor do ensino e perspectiva de emprego. Isso, segundo os especialistas, converte-se em votos de alunos, professores e funcionários das faculdades.

No período eleitoral, ocorre uma espécie de reciprocidade. Em outras palavras, votar no deputado que inaugurou uma faculdade é oportunidade de defender os interesses da região, transformados em mais verbas do governo - de acordo com o trânsito do parlamentar no Congresso - e mais geração de emprego na cidade. ''Eu vou votar no deputado e ele vai defender os nossos interesses, vai trazer mais benefícios e verbas para a cidade'', podia ser o slogan.

Além de votos e altas receitas, outro benefício concedido aos deputados donos de faculdades são as isenções fiscais federais através do Prouni. As instituições reservam vagas para bolsistas. Em contrapartida, livram-se da carga tributária. Das 10 faculdades em questão, sete têm isenção fiscal.