Título: Empresários do terror
Autor: Duilo Victor, Mariana Filgueiras e Ricardo Albuque
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2006, Rio, p. A7

Em pouco mais de um mês, três episódios de violência fizeram uma simples lógica empresarial ganhar versão na indústria ilegal do tráfico de drogas. O dinheiro investido na compra de armamento de guerra, como fuzis de R$ 4 mil, não pode deixar de produzir quando morros estão fora de conflito ou a venda de entorpecentes foi enfraquecida. Informações privilegiadas vindas do asfalto em troca de milícias armadas para praticar outros tipos de crimes ampliou as fontes de renda do narcotráfico. Como microempresas, terceirizam serviços. ¿ As armas são, para os criminosos, um bem de capital. Fuzil parado é capital parado ¿ resume Ronaldo Leão, diretor do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e integrante da ONG Instituto de Defesa Nacional.

No caso mais recente, ocorrido no Leblon dia 18 do mês passado, o provedor da Santa Casa de Misericórdia, Dahars Zarur, estava no apartamento com duas empregadas e uma enfermeira, às 7h, quando foram rendidos por 10 homens armados de fuzis e metralhadoras. Os bandidos sabiam que Zarur guardava em casa US$ 40 mil e jóias de família e não se preocuparam em levar eletrônicos ou em assaltar outros apartamentos. A dinâmica do crime levantou a suspeita sobre a estratégia usada.

¿ A quadrilha certamente tinha informações privilegiadas e o trabalho de inteligência já identificou os criminosos. A força usada no assalto foi desproporcional, a hipótese de terceirização do serviço de traficantes não pode ser descartada ¿ afirmou Álvaro Lins, que deixou a chefia da Polícia Civil semana passada.

No roubo de 10 fuzis e uma pistola do Estabelecimento Central de Transportes (ECT) do Exército, há um mês, em São Cristóvão, a participação de cinco civis ligados ao Comando Vermelho evidenciaram um acordo de traficantes e ex-militares.

¿ A terceirização é antiga no Rio, mas no episódio do quartel, verificamos que está se especializando. Foi milícia alugada por um consórcio de traficantes, com informação privilegiada ¿ atestou Marina Maggessi, chefe de investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes.

O aluguel de armamentos, de acordo com Marina, também ocorre com mais freqüência entre bandidos da mesma facção.

¿ A única coisa que não é perecível na favela é o fuzil. A cocaína acaba, o dinheiro acaba, mas o fuzil resiste. E, para render, muitas vezes é alugado ¿ afirmou.

O uso de granadas para invadir o Museu Chácara do Céu, em Santa Teresa, e roubar quadros, entre os quais exemplares de Henri Matisse, Pablo Picasso e Salvador Dalí, fez o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional repensar o esquema de segurança dos museus. O roubo, realizado por quatro assaltantes com o Chácara do Céu aberto, evidencia o amadorismo da quadrilha. Quando molduras das obras foram encontradas no Morro dos Prazeres, próximo ao museu, a suspeita foi de participação do tráfico.