Título: Bento XVI quer China de volta
Autor: Wojciech Kosc
Fonte: Jornal do Brasil, 02/04/2006, Internacional, p. A26

A aproximação com a China foi uma das prioridades do primeiro ano do papado de Bento XVI. Desde que assumiu, o alemão vem fazendo movimentos para reatar relações diplomáticas com o regime comunista. Quer ser o primeiro pontífice a visitar o país. Mas o governo de Hu Jintao parece não estar disposto a rever o rompimento com a Santa Sé, em 1951.

No último dia 25, o Vaticano deixou clara sua intenção com a nomeação para cardeal do bispo Joseph Zen Ze-Klun, de Hong Kong - onde a Igreja é autorizada a existir sem a intervenção do Estado. A Santa Sé aproveitou a situação para quebrar o silêncio e esquentar o debate. Em Roma, o ministro das Relações Exteriores da Santa Sé, arcebispo Giovanni Lajolo, falou com otimismo sobre as relações com Pequim e considerou o atual momento como ''oportuno''.

Na quarta-feira foi a vez do próprio papa sinalizar disposição ao diálogo com o governo comunista. Anunciou o desejo de visitar a China, algo inédito na história do país. Quando, dependerá da ''vontade de Deus'', nas palavras de Bento XVI.

Nem mesmo João Paulo II, o papa que mais viajou, teve a oportunidade de beijar o solo chinês em seus 26 anos à frente da Igreja. Já o papa Paulo VI esteve em Hong Kong por três horas, quando a ilha ainda era colônia inglesa, em 1970. Agora, os 13 milhões de católicos divididos entre a Igreja controlada pelo Estado e a fiel a Roma justificariam a visita.

- O Vaticano tem essa preocupação devido ao número de católicos no país, que está crescendo - observou ao JB o padre José Hoy En Chao, da Paróquia Chinesa da Sagrada Família, de São Paulo. - Mas até o momento, o governo comunista está indiferente às ofertas do papa.

O chanceler do Vaticano e o cardeal recém-nomeado vêm ecoando o desejo da Igreja. Recentemente, Lajolo chegou a sugerir a mudança da nunciatura - a embaixada do Estado do Vaticano - de Hong Kong, considerada parte da China continental, para Pequim. ''Esperamos uma abertura das autoridades chinesas, que não podem ignorar as expectativas de seu povo e os sinais dos tempos'', disse em entrevista ao jornal chinês South China Morning Post.

Ze-klun, crítico da fragilidade dos direitos humanos e da perseguição religiosa na China, será um nome importante nesse processo. O agora cardeal mantém boas relações tanto com a ''Igreja patriótica'' - a oficial, fundada em 1957 e cuja autoridade máxima é o Estado -, com 5 milhões de fiéis, quanto com os 8 milhões de católicos chamados de clandestinos pelo regime..

- Os próprios católicos do governo rezam pelo papa - contou Chao. - A questão com Hong Kong é interna, mas a China é uma só. Seria bom mudar a nunciatura - disse o religioso, para quem o reconhecimento do Vaticano no país e o estabelecimento de relações diplomáticas seria proveitoso para os milhões de fiéis do país.

Para o padre Luís Corrêa, professor de História da Igreja da PUC Rio, ''esse é um sonho de muitos católicos'':

- Há um mal-estar entre os clandestinos e os patrióticos que poderia ser resolvido com a aproximação da China com o Vaticano.