Título: A novela Daniel Dantas
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2006, País, p. A4

O dono do Grupo Opportunity, o banqueiro Daniel Dantas, vai ganhar capítulo especial no relatório substitutivo que o PT apresentará na CPI dos Correios. As três telefônicas administradas por Dantas injetaram mais de R$ 150 milhões nas empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, operador do mensalão.

O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), concluiu que a Brasil Telecom, no período em que foi administrada pelo grupo de Dantas, ""efetuou transferências comprovadas para o valerioduto"". O relator, no entanto, não indiciou o banqueiro.

O PT está consultando advogados para tipificar as condutas de Dantas. O texto sobre o Opportunity será feito com base em depoimentos da CPI, auditorias e representações que a Brasil Telecom encaminhou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O relatório substitutivo vai discorrer sobre ingerências de Dantas na Brasil Telecom e pagamentos da companhia para esquema para espionar desafetos do banqueiro, que envolve a empresa Kroll. Dantas e a ex-presidente da BrT Carla Cicco foram indiciados pela Polícia Federal por formação de quadrilha.

A Brasil Telecom computou prejuízos de R$ 521 milhões em decorrência das ""irregularidades"" durante a gestão do Grupo Opportunity.

A PF concluiu que Dantas tinha ""posição superior"" na estrutura da ""organização criminosa internacional"" que envolvia a Kroll. A espionagem ilegal custou à telefônica R$ 46 milhões. O serviço mais pesado foi encomendado à Kroll em dois países. Para a Kroll Associates SRL, de Milão, a BrT enviou R$ 15,7 milhões. A Kroll Associates Inc., em Nova York, recebeu R$ 10,1 milhões. A Kroll Associates, no Brasil, recebeu R$ 971 mil.

A BrT também fechou contratos milionários com escritórios de advocacia que acabaram defendendo Carla Cicco e Daniel Dantas no caso Kroll. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, foi contratado por R$ 6,2 milhões.

A BrT recorreu à Justiça americana, mas ainda não conseguiu receber todos os documentos da investigação. Carla Cicco pediu ao executivo-chefe da Kroll, Simon Freakley, que não entregue os documentos para a nova administração. Carla alega que a divulgação dos materiais da Kroll poderá ""afetar as investigações pendentes perante a 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo"", onde ela e Daniel Dantas respondem a processos.

Em resposta, Simon deixa claro que não está disposto a entregar todos os documentos à Justiça dos Estados Unidos. ""Iniciaremos um cuidadoso processo, revendo documentos no que se refere à confidencialidade, como materiais de propriedade exclusiva da Kroll"".