Título: Guerra para aprovar relatório final da CPI
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2006, País, p. A4

Os parlamentares do governo e da oposição na CPI dos Correios travam esta semana uma guerra em torno da aprovação do relatório final. O PT termina hoje seu relatório ""substitutivo"". Além de retirar mais de 20 pessoas da lista dos indiciados - entre eles os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken -, o PT quer punir os financiadores do mensalão, entre eles o banqueiro Daniel Dantas. A oposição aceita atenuar o enquadramento de Dirceu e Gushiken, mas não abre mão de suavizar a definição do mensalão.

- É um relatório integral, que pode absorver muita contribuição também do relator. Mais de 20 devem sair do indiciamento - ressalta o deputado Carlos Abicalil (PT-MT).

Para ele, os governistas têm dois votos de vantagem para aprovar o relatório substitutivo amanhã, sem contabilizar o voto do presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Mas o sub-relator de Fundos de Pensão da CPI, deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), tem outra contabilidade.

- Está indefinido quem tem maioria na CPI. Eu duvido que o PT tenha maioria - afirma ACM Neto.

Para o deputado baiano, não pode ser suprimida do texto a definição do mensalão como um esquema de compra de votos. O relatório governista transforma o mensalão em caixa 2. ACM Neto também não aceita alterar o texto do capítulo sobre a Visanet - que para ele comprova as transferências de dinheiro público para o valerioduto. O PT não acha que esteja clara a transferência de dinheiro da Visanet para o mensalão.

- A bola está nos pés dos governistas. Se radicalizarem, partiremos para o contra-ataque - destaca ACM Neto.

A oposição ameaça apresentar emendas ao relatório de Serraglio para responsabilizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela também pode sugerir o restabelecimento do texto original do capítulo sobre a Gamecorp, empresa do filho do presidente Lula, Fábio, que passaria a ser citado.

Os parlamentares do PSDB e do PFL se reúnem hoje para acertar uma estratégia conjunta para a sessão que discutirá o relatório. Delcídio Amaral só vai aceitar emendas ao relatório até amanhã, às 14 horas. O próprio Delcídio está irritado com os parlamentares de seu partido. Recentemente, disse a assessores que uma operação para abafar os trabalhos da CPI seria um erro estratégico grave e a bala acabaria ricocheteando na candidatura Lula.

O presidente da CPI diz que foi mal interpretado sobre eventual confronto com o relator. Delcídio esclareceu que nenhum relatório com quase 3 mil páginas sai com um texto definitivo e por isso seriam necessários ajustes, admitidos até pelo relator. O presidente da CPI acha que o relatório de Serraglio ""continuará em pé e será aprovado"".

Além de retirar mais de duas dezenas de petistas da lista de indiciados, o substitutivo petista vai aprofundar o tipo de punição para o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). O PT quer enquadrar Azeredo em crime tributário e fiscal. O substitutivo é redigido baseado no texto de Serraglio. O relator fez um capítulo especial sobre a ""divulgação pública do esquema"" do mensalão, onde cita denúncia publicada pelo Jornal do Brasil em setembro de 2004.