Título: Encontro mantém países longe de acordo na OMC
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2006, Economia & Negócios, p. A19

Lançada em 2001, a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) se depara com um importante prazo para que sejam destravadas as negociações para abertura de mercados mundiais.

Para tentar cumprir a agenda que estipula 30 de abril como limite para que os países apresentem ofertas firmes para questões como acesso aos mercados agrícolas e maior abertura a produtos industriais, o chanceler brasileiro Celso Amorim, o representante de Comércio dos Estados Unidos, Robert Portman, e o representante de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, se reuniram no Rio de Janeiro, sob a supervisão de Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, para um encontro informal.

Mas os resultados não foram animadores. As ausências de outros representantes do Mercosul - o Brasil não pode firmar acordos sem a anuência de Argentina, Uruguai e Paraguai - ou de outros membros da OMC impediram avanços mais concretos, o que lança uma nuvem de dúvida sobre o sucesso das negociações dentro do prazo.

O maior temor é que o entrave na Rodada Doha se torne intransponível. O acordo estipulado é que Estados Unidos e UE acabem com os subsídios alfandegários até 2013. O caminho para se chegar até lá, porém, não está claro.

Apesar disso, os diplomatas de Brasil, EUA e União Européia tentaram se mostrar otimistas.

- Há a possibilidade de acordo até o fim de abril e as discussões no Rio podem ajudar a cumprir esse prazo - garantiu Peter Mandelson.

Apesar das declarações e de confirmar que a movimentação e concessões dos países devem ser simultâneas, as visões dos participantes são claramente divergentes.

Um dos principais articuladores do G-20 - grupo de países em desenvolvimento que se contrapõem aos países ricos - o Brasil considera a redução tarifária a produtos exportados oferecida pela UE insuficiente.

Por outro lado, o país sofre críticas externas quanto às suas propostas referentes à redução das tarifas sobre produtos industriais e os Estados Unidos são pressionados para diminuir o apoio interno que fornece aos agricultores.

- É preciso uma definição numérica do que significa justo e equilibrado - afirmou Amorim.

De fato, após o encontro de sábado no Rio de Janeiro, Amorim, Mandelson e Portman apresentaram apenas tópicos nos quais se chegou a um consenso sobre a necessidade de aprofundamento.

Amorim listou, entre estes tópicos, os produtos sensíveis (que precisam receber tratamento diferenciado), a questão do paralelismo (redução simultânea de subsídios) e as cotas de exportação. Muito pouco para discussões que se arrastam há cinco anos e têm menos de um mês para atingir posições consensuais entre 149 países.

Um exemplo da necessidade de maior rapidez no fechamento de acordos concretos é expressado por Robert Portman. O representante americano considera a Rodada Doha uma chance imperdível de liberalizar o comércio, injetar bilhões de dólares na economia mundial e tirar milhões de pessoas da pobreza.

- Não podemos deixar essa oportunidade escorrer pelas mãos - disse.

Portman está preocupado com o prazo que o Poder Executivo do país tem para interferir nessas negociações, que expira em 2007.