Título: Justiça agora intervém nas prévias do PMDB
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/03/2006, País, p. A4

A queda-debraço interna do PMDB ganhou novos capítulos ontem depois que a Justiça interveio nas prévias do PMDB e tornou imprevisível a realização do evento que escolheria o candidato do partido à Presidência da República, programado para amanhã nos 26 estados e no Distrito Federal.

Na manhã de ontem, os governistas do partido, liderados pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), e pelo senador José Sarney (PMDB-AP), conseguiram, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), uma liminar suspendendo a consulta. A liminar foi concedida pelo presidente do STJ, ministro Edson Vidigal, a pedido do deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE).

A decisão judicial fez os pré-candidatos Anthony Garotinho e Germano Rigotto cancelarem agendas e viajarem para Brasília, onde se reuniram com o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), durante toda a tarde e o início da noite, quando o partido recorreu da decisão no STJ. Temer protocolou mandado de segurança para cancelar a liminar, mas só um ministro de plantão poderia julgar o caso, uma vez que Edson Vidigal viajou para o Maranhão para lançar um livro. O grupo estudava também recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).

No início da noite, Temer e Garotinho foram recebidos pelo ministro Hamilton Carvalhido, do STJ, com quem conversavam para tentar reverter a decisão.

A idéia era apresentar o recurso para que os diretórios estaduais não fossem desmobilizados, um dos principais temores da ala do partido favorável à realização das prévias amanhã. Além do mandado de segurança, os governistas conseguiram que 12 dos 27 diretórios regionais não aderissem às prévias. Ontem, concedida a liminar por Edson Vidigal, os governistas enviaram a decisão do STJ para todos os diretórios regionais do PMDB avisando que as prévias estavam canceladas.

O estado de São Paulo, no entanto, que responde por mais de 35% dos votos nas prévias, manteve a convocação de todos os convencionais. O mesmo ocorreu com o diretório do Paraná.

- Contamos com o voto, a força e a vontade de vencer de todos os convencionais - afirmou, em nota, o presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia, que apóia o governador licenciado do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto.

Mesmo que a liminar seja mantida, a expectativa é de que as prévias ainda assim sejam realizadas. O resultado, porém, ficará sub judice, desencadeando uma nova batalha entre as alas antagônicas do PMDB pela legitimidade ou não do resultado. O clima beligerante não tem data para acabar.

Com um olho na decisão judicial e outro na mobilização partidária em todo o país, até o início da noite de ontem cinco diretórios estaduais do PMDB já haviam decidido confrontar a liminar: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

E mesmo que as prévias venham a ser realizadas, os oposicionistas do PMDB devem enfrentar grande esvaziamento. Dos 27 diretórios estaduais da sigla, pelo menos 12 já anunciaram que não devem abrir as portas para a votação de domingo. Segundo o senador Ney Suassuna (PB), contrário à prévia, ""é possível que esse número suba para, pelo menos, 14 diretórios até domingo"". Nesse caso, menos da metade dos diretórios tomaria parte no processo.