Título: Amizade de padrinho para filho
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 18/03/2006, País, p. A5

Apesar de uma estreita amizade, de décadas, com o senador José Sarney (PMDB-MA), o ministro Edson Vidigal, presidente do Superior Tribunal de Justiça, refuta as insinuações de que teria concedido a liminar suspendendo as prévias do PMDB para atender ao amigo e protetor na política maranhense. Argumentou que a decisão estava vinculada à de dezembro de 2004 ¿ também liminar ¿ responsável pela anulação da Convenção Nacional do PMDB que resolvera deixar de apoiar, no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os senadores Sarney, Ney Suassuna (PB) e Renan Calheiros (AL) são contra as prévias. Estão mais interessados em fazer aliança com o PT para a reeleição de Lula.

¿ Não tenho que me dar por impedido nesse caso, já que estou tecnicamente vinculado àquela decisão de 2004. Não há também qualquer motivo de suspeição, por causa da minha amizade com o senador Sarney. Assinei meu pedido de aposentadoria ontem (anteontem) e vou formalizar minha candidatura ao governo do Maranhão, no dia 30, por uma coligação de esquerda (PT-PSB-PCdoB-PPS). A decisão até me prejudica aqui no Maranhão, mas ainda sou magistrado ¿ afirmou Vidigal ao JB, por telefone.

O presidente do STJ e pré-candidato ao governo maranhense estava ontem em Imperatriz para proferir uma palestra sobre ¿Direito e Justiça¿. Também para lançou o livro autobiográfico De como ganhar o mundo e ser ganho por ele editado pela UnicerCidade Editora e Top Books.

A contracapa do livro contém depoimentos sobre Vidigal de algumas figuras públicas, entre elas o senador José Sarney. Imortal da Academia Brasileira de Letras, Sarney escreveu: ¿Poeta, jornalista, contista, polemista, (Edson Vidigal) foi sempre um talento agitado, um homem de pensar e agir. Temos uma convivência da vida inteira, quase do sabor pai e filho¿.

Edson Vidigal foi deputado federal pelo PMDB (1979-83), apadrinhado por Sarney. Ao assumir a presidência da República, o atual senador nomeou Vidigal assessor especial para Assuntos do Judiciário e do Ministério Público. Em dezembro de 1987, o amigo-presidente indicou-o ao Senado para compor o então Tribunal Federal de Recursos que, com a Constituição de 1988, passou a ser o atual Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Esta foi a segunda vez em que um despacho do ministro Vidigal beneficiou os pemedebistas que defendem o apoio ao governo e à candidatura à reeleição de Lula.

Em dezembro de 2004, ele anulou liminar concedida pelo presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, desembargador José Jeronymo Bezerra de Souza, que validara a convenção nacional do PMDB, realizada em Brasília, e que decidira pelo afastamento do partido da base governista.

Concedida a liminar, Vidigal teria de julgar o mérito da reclamação então proposta pelo senador Ney Suassuna. Como artifício para que o ministro Vidigal se julgasse impedido, a ala oposicionista do PMDB contratou como advogado o filho do presidente do STJ, Erick Vidigal. O ministro não se considerou impedido, porque, segundo ele, ¿a entrada de advogado posteriormente ao início do feito, mesmo que parente, não obriga o magistrado a se declarar impedido¿.