Título: EUA criticam escolha de TV digital
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/03/2006, Economia & Negócios, p. A20

Com o sistema americano (ATSC) praticamente descartado pelo Brasil entre as opções para a TV digital, o governo dos Estados Unidos decidiu entrar na disputa com críticas ao sistema europeu (DVB) e às negociações envolvendo a possível instalação de uma fábrica de semicondutores (chips) no Brasil. A proposta dos europeus é uma tentativa de neutralizar projeto semelhante apresentado pelos representantes do modelo ISDB, de tecnologia japonesa, o preferido do ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Por meio de uma videoconferência organizada pela Embaixada dos EUA no Brasil, o coordenador de Políticas de Comunicações Internacionais e Informação do Departamento de Estado, embaixador David Gross, disse que ""as conversas entre os governos da União Européia e do Brasil acerca do potencial de se estabelecer uma fábrica de semicondutores têm muitos furos e não parecem passíveis de credibilidade"".

- A construção de unidades de ampla envergadura e porte como de semicondutores é um tipo de desdobramento que segue o mercado, não é algo decorrente apenas da idealização do governo - disse.

Ao apontar as vantagens do sistema ATSC sobre o DVB e ISDB, Gross afirmou que o Brasil deveria atentar para a escala de produção e potencial de exportação que seria aberto com a escolha de um mesmo padrão para as Américas.

- Acreditamos que, em vez de se adotar um padrão externo, estamos procurando estabelecer uma parceria de natureza dupla: técnica e econômica.

Os americanos não se comprometem em produzir semicondutores no Brasil, como quer o governo brasileiro, mas ainda esperam que as propostas de investimentos de outras indústrias para produção de equipamentos de transmissão e televisores no país sejam analisadas como um ponto favorável ao sistema ATSC. No portfólio americano estariam unidades da Harris Corporation (fabricante de equipamentos transmissores) e da coreana LG, fabricante de televisores.

Gross negou que o governo americano tenha se distanciado das negociações sobre a escolha do modelo de TV digital.

- Estamos efetivamente comprometidos em ir adiante daqui para frente, em fazer uma parceria com o Brasil.

O governo dos EUA tem atuado nas discussões sobre a TV digital com uma postura mais conservadora que os europeus e japoneses. Entretanto, mesmo reconhecendo que o Brasil está na reta final para anunciar sua escolha, os americanos fizeram questão de demonstrar que ainda estão no páreo.

Se, por um lado, eles não pretendem entrar num leilão envolvendo a indústria de semicondutores, por outro argumentam que os custos dos equipamentos, principalmente aqueles que deverão ser adquiridos pela população, devem pesar na escolha brasileira.

Isso porque uma diferença de US$ 50 a US$ 100 no preço do terminal ou do conversor para o usuário representaria um custo de US$ 3 bilhões a US$ 6 bilhões, num país com aproximadamente 60 milhões. O governo ainda não decidiu quando divulgará qual modelo será adotado pela TV digital brasileira.