Título: Para PF, investigação foi ilegal
Autor: Hugo Marques e Wallace Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2004, Economia & Negócios, p. A17

BRASÍLIA e RIO - As investigações da PF mostram que o esquema de espionagem que teria sido patrocinado por Daniel Dantas proporcionou acesso a documentos sigilosos através de práticas ilegais. - Algumas informações a que os funcionários da Kroll tiveram acesso demonstram que foram obtidos através da cooptação de agentes públicos. Isso certamente era para servir a quem contratou o trabalho da empresa - informou o delegado Romero Menezes.

Através da cooptação, o esquema quebrou sigilo de contas bancárias, ligações telefônicas e até mensagens eletrônicas. As 16 operações de busca e apreensão, segundo o delegado, permitirão o cruzamento de informações com o que já foi investigado pela PF até agora.

Além do esquema de espionagem, os investigadores procuram ligações de Daniel Dantas com um esquema de contra-informação para atingir o poder público, que poderá resultar em novas operações.

Durante as buscas e apreensões de ontem, a PF voltou a recolher documentos na casa do espião português Thiago Verdial, preso este ano após ser acusado de participar do esquema de bisbilhotagem.

A documentação recolhida ontem poderá comprovar depoimentos já colhidos pela PF. Em um deles, o vice-presidente de Segurança da Telecom Itália, Angelo Jannone, diz que o banqueiro Daniel Dantas ordenou, orientou e coordenou pessoalmente o esquema montado pela Kroll Associates.

Jannone conseguiu gravar declarações de Tiago Verdial, nas quais o espião revela que Dantas comandava o processo. O espião já tinha desenvolvido uma intimidade tão grande com o serviço que tratava Daniel Dantas de ''DD''. A presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, era chamada de ''CC'' pelo espião português.

Foi Jannone quem entregou à PF os relatórios Tokyo IX e Tokyo X, feitos pela Kroll, em que constam investigações sobre autoridades do Judiciário do Rio e sobre o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken.

Segundo a PF, a documentação recolhida ontem poderá mostrar a lista de todas as autoridades investigadas pela Kroll. A PF teve acesso ao servidor central do sistema de computação da Kroll em São Paulo, que estaria ativo para realizar escutas de ambiente e telefônicas ilegalmente. Também na capital paulista, a polícia vasculhou a casa de Antônio José Silvino, do Banco Multiplic.

Em Fortaleza, o presidente do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), Sérgio Rosa, afirmou que não esperava nada de positivo em se tratando de Opportunity, grupo com o qual trava batalhas judiciais em várias frentes.

- Trabalhar com o Opportunity é alto risco. Era inevitável que isso acontecesse - disse.

Por meio de nota divulgada ontem, a Kroll do Brasil informou que todas as suas investigações foram conduzidas legalmente, a partir da análise de documentos públicos, entrevistas e conversas informais. A empresa ressaltou que ''em momento algum se utilizou de qualquer prática que desrespeitasse a legislação brasileira, como: grampos telefônicos ou quebra de sigilo eletrônico''.

Na nota, a Kroll do Brasil informou ainda que nunca investigou autoridades do governo e que a investigação ''limitava-se única e exclusivamente a uma disputa entre duas empresas, sendo elas a Telecom Brasil e a Telecom Itália''.

Procurado, o Grupo Opportunity limitou-se a informar que as operações de captação de recursos e gestão do banco, no Rio, não foram prejudicadas com a ação da PF. No fim da noite, em nota, o grupo alegou que, até ontem, seus advogados não tiveram acesso à ação na 5ª Vara Criminal de São Paulo e que só se pronunciariam após o exame dos documentos.