Título: O labirinto do Opportunity
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2004, Economia & Negócios, p. A18

Documentos, agendas, disquetes e HDs de computadores foram levados do escritório do Opportunity ontem pela Polícia Federal no Rio. De acordo com o delegado responsável pela operação, Ângelo Gióia, o material poderia relacionar Daniel Dantas às investigações da Kroll. O apartamento de Daniel Dantas, na Avenida Vieira Souto, também foi vasculhado, assim como a filial da Kroll na Torre do Rio Sul e as casas do araponga Thiago Verdial e de Antônio José Silvino Carneiro, na Tijuca. A operação Chacal no Rio envolveu mais de 40 policiais federais. O material foi embalado em 22 malotes, que seguirão hoje de manhã, por avião, para São Paulo. Gióia disse que não houve resistência em nenhum dos locais investigados pela PF, mas comentou que toda a operação foi acompanhada por advogados de Dantas.

- Tivemos o cuidado de não atrapalhar o funcionamento do banco, para não afetar os clientes. O que fizemos, na verdade, foi uma apreensão nas salas de Daniel Dantas, que ficam no mesmo andar do banco - informou o delegado.

De acordo com fontes que participaram da operação, o local que exigiu maior perícia dos policiais foi justamente o conjunto de salas de Dantas localizado no Banco Opportunity, onde havia muitas informações dispersas nos arquivos. Dantas não estava em casa na hora da ação da polícia e não foi encontrado para comentar o caso.

Daniel Dantas é figura constante no noticiário das disputas empresariais. Dono do Opportunity, que controla empresas como Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular, Opportrans (Metrô Rio), o empresário já se envolveu em inúmeras brigas com fundos de pensão e sócios em empresas do setor de telecomunicações.

A mais alardeada é a disputa pelo controle da Brasil Telecom, operadora de telefonia fixa nas regiões Centro-Oeste e Sul. Mas existem disputas mais antigas. Em 2000, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ) recorreu de manobra do Opportunity, que alterava a composição acionária da Newtel, empresa que controla a Telemig e a Amazônia Celular. Liminar obtida em 2002 impede que o banco venda suas participações nas duas operadoras.

Após denúncia do ex-sócio de Dantas Luiz Roberto Demarco, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investigou e puniu os gestores do Opportunity Fund - entre eles a irmã do banqueiro, Verônica Dantas - em multas no valor total de R$ 560 mil devido à operação irregular do fundo offshore, sediado nas Ilhas Cayman, conhecido paraíso fiscal do Caribe. A CVM acusou o banco de captar recursos de brasileiros para o fundo, o que é irregular. Dantas também é suspeito de ter encomendado à Kroll investigação sobre integrantes da cúpula do Tribunal de Justiça do Rio.