Título: Indústria acelera contratações
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2004, Economia & Negócios, p. A19

Uma nova safra de números positivos no setor industrial foi apresentada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com os resultados da sondagem conjuntural da indústria de transformação para o último trimestre de 2004. Realizada nas últimas quatro semanas com 908 empresas, a pesquisa aponta utilização recorde da capacidade de produção instalada e empresariado otimista, interessado inclusive em criar mais empregos do que no último trimestre do ano passado. O nível de utilização da capacidade instalada atingiu o percentual de 86,1%, o maior desde 1977. O índice veio puxado pela indústria de bens intermediários, como metalurgia e celulose, com 89%.

- Esse setores foram os primeiros a expandir a produção, impulsionados pelas exportações - explica o economista Aloisio Campelo, responsável pela pesquisa. - A capacidade instalada dificilmente chegará à exaustão nos próximos meses, porque ainda há muito a crescer na indústria de bens de consumo e de capital.

A situação dos negócios é considerada boa por 43% do empresariado e fraca por 7% deles. O saldo da demanda prevista para o período - diferença entre os empresários que consideram alta e os que acreditam ser baixa - foi positiva em 22 pontos percentuais. Em igual período de 2003, foi de 25 pontos.

- No ano passado, os empresários vinham de um período recessivo, havendo uma grande expectativa de que, em algum momento, os negócios teriam que melhorar - acredita Campelo.

A produção, que caminha junto à demanda, registrou o mesmo movimento: o saldo entre os que vão aumentá-la e os que pensam em diminuí-la foi de 20 pontos, contra 23 apurados em 2003.

Otimistas, os industriais estão mais dispostos a contratar. A pesquisa revelou que o saldo de geração de empregos é de 26 pontos percentuais a favor dos empresários que pretendem abrir vagas nos próximos meses, o melhor resultado desde 1986. Os setores que mais devem empregar são o de mecânica, produção de alimentos e vestuário e calçados.

A notícia ruim ficou por conta da previsão de preços. Trinta e oito por cento dos empresários estariam dispostos a promover aumentos, e apenas oito pretendem baratear seus produtos. O saldo, de 30 pontos percentuais, é superior aos 17 do último trimestre de 2003, mas menor do que os índices de 2002 e 2001, que foram, respectivamente, de 47 e 32 pontos percentuais. A alta, explicou Campelo, é atribuída à indústria de bens intermediários, que sofre impacto direto do preço das commodities em alta.

Apesar do otimismo, ainda não foi percebido nível de investimento correspondente. O percentual sobre as vendas a ser revertido na expansão do negócio é de 6,52%, abaixo da média histórica de 6,72%.

- A indústria está preferindo aplicar a receita, que está em alta, na amortização de dívidas no exterior. Isso porque o Banco Central e o Tesouro deixaram de ofertar títulos atrelados ao câmbio, que eram utilizados pelas empresas como mecanismo de proteção para as oscilações do dólar. Em breve, quando elas considerarem o nível de endividamento menos perigoso, voltarão a investir - aposta o economista Samuel Pessoa, da FGV.

Pessoa acredita que o ciclo de crescimento em curso será diferente de todos os outros.

- Os dados revelam uma semelhança conjuntural com o início do Plano Real. No entanto, desta vez o país apresenta um equilíbrio nas contas públicas e um superávit externo que não tínhamos em nenhum outro momento de crescimento. Acreditamos que, desta vez, o processo será duradouro - acredita.