Título: Pesquisadores acham novo hominídeo
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/10/2004, Ciência, p. A12

Parente do homem moderno, espécie tinha um metro de altura e cérebro um quarto menor do que normal

PARIS - Numa das mais espetaculares descobertas de fósseis dos últimos 10 anos, antropólogos britânicos anunciaram ontem terem encontrado ossos de um minúsculo hominídeo que representa um pedaço da árvore genealógica humana, segundo artigo que será publicado hoje no semanário científico Nature.

Com a altura de um chimpanzé e o crânio do tamanho de uma grande tangerina, o pequenino hominídeo viveu cerca de 18 mil anos atrás na remota ilha indonésia de Flores (Leste), disseram os especialistas.

Acredita-se que ele seja uma extinta ramificação asiática do Homo erectus, precursores do Homo sapiens, como é chamado o homem moderno. Mas era tão diferente do Homo erectus ou do Homo sapiens que, segundo cientistas, deveria ser classificado como uma espécie separada.

Media só um metro de altura e o cérebro tinha um quarto do tamanho do do homem moderno. Os cientistas apelidaram-no de Homo floresiensis, ''Homem de Flores''.

É o menor entre as 10 espécies conhecidas do gênero Homo, hominídeo que, segundo a ciência, surgiu na África cerca de 2,5 milhões de anos atrás.

A teoria, baseada na descoberta de instrumentos de pedra em Flores, é a de que o Homo erectus chegou a ilha há cerca de 800 mil anos e tornou-se geneticamente marginalizado do resto da humanidade. Ao longo de milhares de anos, a pressão evolutiva fez a colônia encolher - a escassez de alimentos e a superpopulação favoreceram a sobrevivência de indivíduos menores, cujos genes foram passados aos descendentes.

- Interpretamos o H. floresiensis como uma linhagem quase extinta (do Homo) que chegou e depois foi preservada na ilha - disseram os autores do estudo, chefiados por Peter Brown, da Universidade da Nova Inglaterra, na Austrália. - Isoladas, as populações passaram por mudanças endêmicas - continuou.

Com o passar dos milênios, o Homo erectus foi desaparecendo no resto do mundo, sendo substituído por hominídeos mais altos e com cérebros maiores. O melhor sucedido foi o Homo sapiens, que partiu da África cerca de 150 mil anos atrás e conquistou o planeta, tornando-se a única espécie viva do gênero Homo atualmente.

Segundo o cenário convencional, o Homo sapiens migrou pelo Sul da Ásia entre 100 mil e 50 mil anos atrás.

Depois, tomou a direção Nordeste, cruzou as Américas rumo ao Alasca, e a direção Sudeste para colonizar o arquipélago indonésio, o Pacífico Sul, a Austrália e a Nova Zelândia.

Em algum momento, o Homo sapiens também apareceu nas ilhas Flores - onde provavelmente conviveu por milhares de anos com o Homo floriensis. O que aconteceu depois é um dos grandes enigmas ainda sem resposta, segundo a equipe do professor Brown.

É impossível saber como as duas espécies interagiram. Será que o Homo sapiens massacrou seus vizinhos menores? Ou será que o Homo floresiensis entrou em extinção porque não podia mais competir por comida com seus primos maiores?

Outra questão é se as duas espécies eventualmente cruzaram, possivelmente levando à mistura genética que o Homo sapiens traz hoje.

Este quebra-cabeça também se aplica ao homem de Neanderthal, hominídeo que viveu na Europa, em partes da Ásia Central e do Oriente Médio, por cerca de 170 mil anos até desaparecer, inexplicavelmente, de 28 mil a 30 mil anos atrás.