Título: PRESIDENTE DO INCRA REAFIRMA ATAQUES E PLANALTO SILENCIA
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2004, Primeiro Caderno, p. 9

Líder do MST, Stédile acompanha Rolf, pede a sem-terra vaias para Rodrigues e ainda chama gaúchos de palhaços

BRASÍLIA. As declarações do presidente do Incra, Rolf Hackbart, vinculando fazendeiros ligados ao agronegócio à morte dos sem-terra em Minas Gerais não foram bem recebidas no Palácio do Planalto. Autoridades do governo consideraram infelizes os comentários. Para não acirrar ainda mais a polêmica, a Presidência da República não quis falar oficialmente sobre o assunto mas também não repreendeu o presidente do Incra pelas declarações. Hackbart continua no cargo.

Por causa da polêmica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não comparecer à conferência organizada pelo MST em Brasília. O encontro reuniu cerca de cinco mil pessoas e foi para essa platéia que o presidente do Incra acusou os fazendeiros de contratar jagunços e matar sem-terra em Minas Gerais. Na noite de quarta-feira, Lula ainda considerava ir ao encontro ontem, o que não ocorreu. Assessores alegaram que a agenda do presidente estava muito cheia.

Stédile pede vaias para ministro da Agricultura

Apesar do constrangimento, Hackbart reafirmou ontem as críticas ao setor do agronegócio. O presidente do Incra disse que casos como os de Unaí (MG), onde fiscais do Ministério do Trabalho foram assassinados, e o de Felisburgo (MG), onde cinco sem-terra foram mortos, comprovam o envolvimento de produtores do agronegócio com esse tipo de crime.

- Parece que o agronegócio é intocável. Esses dois casos são exemplo de que não é - disse.

Afinado com as declarações do presidente do Incra, o líder do MST João Pedro Stédile fez discurso ontem na conferência criticando o agronegócio, pediu vaias para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e não poupou nem Lula.

- Somos amigos, mas não somos burros. Elegemos o presidente para mudar o modelo neoliberal, e nada mudou.

Stédile também condenou os agricultores gaúchos por usarem soja transgênica. O líder do MST disse que os grande produtores é que estão interessados nas sementes produzidas por multinacional.

- E os palhaços dos gaúchos pagam os royalties.

"Hackbart é símbolo da politização do governo Lula"

Ao sair de uma reunião com Lula, o deputado Paulo Bernardo (PT-PR) criticou o presidente do Incra. Indagado se era caso de demissão, Paulo Bernardo disse que não:

- Não é caso de demissão. Foi um ataque de verborragia, incontinência verbal. Ele foi inadequado - disse, acrescentando que o assunto não tinha sido comentado por Lula.

Na Câmara, deputados criticaram Hackbart e alguns chegaram a defender sua demissão. Para Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), as declarações incentivam a violência no campo, trazem instabilidade à produção e incitam os movimentos que estão dormitando a agir:

- Hackbart é símbolo da politização do governo Lula. Sua ligação com uma facção histórica e radical do PT pode ser boa para pedir votos, mas nunca será boa para governar o país. Ele deveria ser sumariamente demitido.

Ministro da Agricultura no governo Fernando Henrique Cardoso, o deputado Francisco Turra (PP-RS) recorreu à ironia, acusando o presidente do Incra de não saber o que é o agronegócio e lamentou o fato de o governo mantê-lo no cargo.

- É lamentável o presidente da República escolher alguém que venha para incendiar. O campo precisa de paz para produzir - criticou Turra.