Título: Polícia Federal investiga juiz e delegados
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2004, País, p. A-2

A Polícia Federal começou a fazer uma análise nos arquivos apreendidos por meio de 215 mandados de busca e apreensão da Operação Farol da Colina, em agosto, quando 64 doleiros foram presos. Nas agendas pessoais e nos arquivos da empresa do doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, constam autoridades da Polícia Federal e do Judiciário. O doleiro recorreu aos esquemas considerados ilícitos do Banestado e da empresa Beacon Hill para levar dinheiro para os Estados Unidos. A PF encontrou na Barcelona Tour reservas de passagens, pagamento de hotéis e aluguel de carros para autoridades. Os arquivos são de dezenas de viagens para Nova York e Miami, nos Estados Unidos, e cidades do Canadá.

Numa folha de um dos cadernos apreendidos pela PF consta um telex com reservas de passagens para o doleiro Toninho da Barcelona, para o delegado da Polícia Federal Marcus Vinícius Deneno e para o juiz federal Cassem Mazloum, rumo a Nova York. Deneno foi preso esta semana, acusado de formação de quadrilha, mas a Justiça o soltou. Investigado pela Operação Anaconda, Mazloum é o juiz que absolveu o senador cassado Luiz Estevão de Oliveira Neto no desvio de dinheiro da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo.

Toninho da Barcelona estava no mesmo vôo do juiz e do delegado, que incluía ainda os passageiros Manoel Marques e Antonio Costa. Este último, a PF desconfia ser outro delegado paulista. A reserva para todos os passageiros é feita para 23h45 do dia 22 de janeiro de 1998, no vôo 864.

Em dezembro de 1993, Deneno e Toninho da Barcelona viajaram para Miami. Deneno e sua mulher, Magda, também viajaram com Toninho em dezembro de 1996 para Nova York, segundo telex de reserva recolhido pela PF. Fax apreendido pela PF, de junho de 1997, mostra que a Barcelona Tour pediu emissão de quatro bilhetes de Congonhas (SP) para o Rio de Janeiro em nome de Magda, Milena, Mariana e Matheus Deneno. No fax está escrito: ''O Toninho acertará o pagamento com o Nilsinho''.

Nos arquivos da empresa de Toninho constam documentos referentes a uma viagem de Marcus Deneno para Toronto e Halifax, no Canadá, em janeiro de 1997. O único pagamento feito por Deneno, segundo a documentação recolhida, é o trecho de ida e volta entre São Paulo e Toronto. De acordo com a PF, a Barcelona Tour teria pago o hotel em Toronto.

Há documentos da Barcelona Tour sobre viagem do juiz Cassem Mazloum, na companhia de Antônio Costa, Manoel Marques e Paulo Freitas, para Miami, em fevereiro de 1995. A PF não conseguiu identificar ainda quem pagou o hotel, a viagem e o aluguel do veículo, alugado em nome de Cassem. Em fevereiro de 1996, o mesmo grupo viajou para Miami novamente.

Um dos arquivos mostra um processo de obtenção de carteira internacional de motorista para Francisco Baltazar da Silva, ex-superintendente da PF em São Paulo. Em uma agenda da Barcelona Tour, constam os telefones do ''dr. Cassem Mazloum'', do ''dr. Costa'' na PF, do ''dr. Mário Kiyotaka Ikeda'' - incluindo celular e número na PF - além do endereço do ''dr. Baltazar''.

Em outra agenda, em nome de Antônio Oliveira Claramunt, consta a anotação ''conheci Paulo - DGDPF'', na página do dia 16 de julho de 1994. Há ainda um registro onde está escrito textualmente: ''passar casa Deneno - 10h00''.

A documentação recolhida pela PF inclui anotações sobre viagem da família de Deneno para Orlando, na Flórida, entre 23 de junho e 23 de julho de 1994. Foi feita reserva de dois quartos conjugados em nome de Marcus Deneno, Magda, Emília, Marly, Milena, Mariana e Matheus Deneno.

Em uma viagem de Deneno e Toninho para Miami, as reservas do doleiro e do delegado foram feitas juntas, com o mesmo código: A5DLXT. Em outra viagem que fizeram juntos, o doleiro e o delegado voltaram a utilizar a mesma reserva, desta vez com o código AZJRGT.

A PF também teve acesso a uma ficha de controle de viagem em nome do delegado Dirceu Bertin, entre São Paulo e Miami, investigado pela Operação Anaconda. Procurado na Delegacia da PF em São José dos Campos (SP), o delegado Deneno não retornou telefonema. O gabinete do juiz e a Secretaria da 1ª Vara da Justiça Federal em São Paulo informaram que Mazloum está afastado e sem contato telefônico.