Título: Status de Meirelles vira queda-de-braço
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2004, País, p. A-3

Desentendimento entre aliados faz governo optar por adiar votação da reforma política, na tentativa de ajudar presidente do BC O governo pagou para ver e entrou noite adentro para aprovar a medida provisória que garantiu status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Em um dia de incertezas, e lutando contra a fragilidade na relação com seus aliados, o governo optou por adiar a votação da reforma política para garantir o apoio à medida provisória que concede status de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Foi para o plenário com um PT dividido ¿ 26 a 23 em uma reunião interna ¿ mas com os demais partidos aliados apoiando a MP. Até as 23h de ontem, a votação ainda não tinha ocorrido. Mas a própria oposição admitia que o Planalto teria os votos necessários para aprovar a MP.

Os governistas se apoiavam na necessidade de proteger a principal autoridade contra ataques de juízes de primeira instância. Durante a reunião com a bancada do PT, o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP) apelou para a fidelidade da bancada governista, alegando que Meirelles está sob ameaça de prisão decretada por um juiz de Goiás.

¿ É uma irresponsabilidade deixar o presidente do Banco Central a mercê de um juiz de primeira instância. Existem 81 processos contra ex-presidentes e ex-diretores de BC, em primeira instância, sem julgamento. Mas o sujeito fica marcado ¿ protestou o relator da MP, Ricardo Fiúza (PP-PE).

Fiúza protagonizou o episódio mais tenso da noite, dividindo os holofotes com o deputado Babá (PSOL-PA). Babá pediu a palavra para discursar contra a MP. Classificou como absurdo os deputados do PT se prestarem ao papel de defender uma proposta inconstitucional. Em um determinado momento, começou a ofender o relator.

¿ O senhor quase foi envolvido no escândalo da CPI do Orçamento. O senhor defendeu um corrupto, o ex-presidente Fernando Collor. Foi escolhido a dedo para proteger outro corrupto, o presidente do BC, Henrique Meirelles ¿ acusou.

Fiúza ferveu de raiva no plenário. Dedo em riste, voz ameaçadora, apontava para o deputado Babá, aos gritos. ¿ Moleque, vagabundo, não brinque comigo. Nunca lhe ofendi, nem nunca lhe dei essa liberdade ¿ devolveu, enfurecido.

Deputados seguravam Fiúza para que ele não partisse para cima de Babá. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), disse ao parlamentar paraense que, se este tivesse alguma denúncia concreta contra Fiúza, que apresentasse. Babá preferiu o caminho da ironia.

¿ Corrupto, sim. O senhor foi da tropa de choque de Collor, tentou impedir o impeachment. Ou não foi? Está querendo proteger um corrupto. Ou fraudar o fisco não é corrupção? ¿ tripudiou.

Foi a gota d¿água. O líder do PP na Câmara, Pedro Henry (MT), pediu, e foi prontamente atendido pela Mesa da Câmara, a abertura de processo disciplinar contra Babá. Segundo Henry, Fiúza honra muito o PP.

¿ Que ele prove o que denunciou. Ele vai ter que sustentar o que disse, sob pena de quebra de decoro parlamentar. O que está em jogo é a credibilidade desta Casa ¿ cobrou Henry.

O bate-boca foi tudo que a oposição precisava para arrastar a votação até a madrugada. A intenção de PFL e PSDB era, até as 23h, pedir votação nominal para aprovação da MP. O deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) planejava subir à tribuna com um jornal interno do PT nas mãos, alegando que os próprios petistas se sentiam desconfortáveis em aprovar uma medida provisória inconstitucional.

¿ Eles podem ter ganho no número, mas perderam feio no debate. Teve deputado que admitiu que votaria com o governo, mesmo admitindo que a edição da MP era um erro ¿ lamentou o deputado Ivan Valente (PT-SP).

Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), seria inconcebível os petistas votarem contra uma proposta encaminhada pelo Executivo, em um momento delicado nas relações do Planalto com a banca governista.

¿ Isso seria um suicídio político ¿ resumiu Pimenta.