Título: Vaticano:AIDS é imunodeficiência moral
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/12/2004, Ciência, p. A-12

Chefe do Conselho de Saúde afirma que doença é ''patologia do espírito''

O Vaticano atribuiu a disseminação da Aids a uma ''imunodeficiência'' dos valores morais, em meio a outros fatores, e pediu por educação, abstinência sexual e um acesso maior às drogas para combater a epidemia que já matou milhões de pessoas. Ontem, às vésperas do Dia Mundial de Luta contra a Aids, o chefe do conselho de saúde pontifical do Vaticano citou o papa João Paulo II para dizer que a Aids é uma ''patologia do espírito'', que deve ser combatida por todos com ''de forma responsável, sendo preciso que se aumente a prevenção através da educação, ensinando o respeito do valor sagrado da vida e uma prática correta da sexualidade''.

- Eu destaco o pensamento dele com relação à imunodeficiência dos valores morais e espirituais - acrescentou o cardeal Javier Lozano Barragan, em discurso preparado para ser lido hoje. Um relatório das Nações Unidas divulgado na semana passada mostrou que o número de adultos e crianças vivendo com o vírus HIV alcançou 39,4 milhões em 2004, mais do que os 35 milhões registrados em 2001.

- O HIV/Aids é uma das epidemias mais devastadoras de nossa época - disse Lozano Barragan. Junto com a ''observância da virtude da abstinência'', ele afirmou que os preços das drogas anti-retrovirais deveriam ser barateados e pediu que as nações industrializadas ajudassem a combater a epidemias nos países mais atingidos.

O recado do Vaticano é, em boa parte, dedicado aos europeus. Os mais jovens correm um risco imenso de contrair o vírus, por isso é necessário iniciar ''medidas urgentes para evitar uma catástrofe sanitária'', alertou o novo comissário de Saúde da União Européia, o cipriota Markos Kyprianou.

Em comunicado, o comissário explicou que o aumento de contaminados, número que quase duplicou na UE desde 1996, deve-se especialmente ao fato de ''adolescentes e jovens menores de 25 anos não terem conhecido as campanhas que promoviam relações sexuais seguras no final dos anos 80 e início dos 90''. Em particular, o vírus teve um grande crescimento nos países bálticos e em seus vizinhos, como a Rússia, onde 80% dos infectados está abaixo de 30 anos.

- Uma das principais razões destas taxas é que os jovens parecem desconhecer ou fazer pouco caso dos conselhos para garantir relações sexuais seguras - analisou o comissário. A Comissão incentivou os países da UE a iniciar ações para identificar e promover boas práticas na área de prevenção, controlar a doença no âmbito europeu, assegurar os investimentos em pesquisas e garantir que os doentes dos países europeus mais pobres tenham acesso a um tratamento.

Segundo as últimas cifras publicadas pelo Executivo da UE, o número de casos novos de Aids no bloco caiu 24% em 2003 em comparação com o ano anterior, embora as infecções pelo (HIV) tenham aumentado quase 75% desde 1996.