Título: Contribuintes trabalharão 25 dias a mais
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2004, País, p. A-3

O aumento da expectativa de vida do brasileiro, por enquanto, atrapalhará mais os planos de quem está prestes a pedir aposentadoria. O INSS ainda não calculou o impacto financeiro, mas informou que os contribuintes trabalharão mais 25 dias para que se mantenha o valor do benefício previsto. A expectativa de vida é um dos componentes do fator previdenciário, fórmula criada em 1999 e que, desde o ano passado, é obrigatoriamente aplicada na definição do valor do benefício no caso de aposentadorias por tempo de contribuição. Quando aumenta, a previsão de sobrevida após a concessão do benefício reduz o fator previdenciário. Assim, para se manter o valor da aposentadoria, é necessário se trabalhar um número maior de dias. O fator tambem é aplicado em caso de aposentadorias por idade, quando beneficia o contribuinte. As aposentadorias já concedidas não serão afetadas.

A bibliotecária Regina Herlin planeja pedir aposentadoria pelo INSS quando completar 58 anos, em julho de 2005. Funcionária pública, teve de adiar por dois anos os planos de abandonar a ativa, por conta da mudança das regras da Previdência.

- São só alguns dias, pouco menos de um mês. Dá para suportar, mesmo já tendo trabalhado dois anos a mais do que havia planejado.

O INSS informa que o impacto financeiro exato só poderá ser medido no início do ano, quando for concluído o balanço da Previdência Social.

O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Vagner Laerte Ardeo, afirma que o maior tempo de vida para os brasileiros torna o sistema mais deficitário. Haveria necessidade de uma reforma para alterar significativamente as normas do Regime Geral, que engloba o INSS e sofreu pouco impacto da reforma da Previdência. Para ele, a reforma centrou fogo no Regime Jurídico Único, que disciplina as contribuições e benefícios dos funcionários públicos.

O economista Claudio Considera, professor do IBMEC/Rio, acredita que o aumento da expectativa de vida não traga problemas maiores do que os já vividos pela Previdência há muitos anos.

- Do ponto de vista prático, o impacto dessa notícia, que é muito boa para os brasileiros, é zero. Os maiores problemas estão associados a questões mais graves, como a ineficácia da fiscalização, que acaba onerando os que já pagam e deixando de fora os sonegadores - diz.