Título: Banco Central de volta à arena
Autor: Gabriela Valente* e Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2004, Economia, p. A-17

Não durou 24 horas a harmonia no governo do PT e ontem, um dia após a divulgação do robusto crescimento do PIB divulgado pelo IBGE, integrantes do Executivo e do Legislativo afinaram o discurso contra o Banco Central. O dólar chegou a valer R$ 2,706 ontem, mas acabou fechado a R$ 2,711, o menor nível dos últimos dois anos e meio, e acendeu a luz vermelha para as exportações. - Com a questão do câmbio, alguns segmentos estão optando por direcionar a produção para o mercado interno e desistem do mercado externo - afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, após se encontrar com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). O petista concordou.

- Essa taxa de câmbio começa a dar sinais de preocupação, no médio prazo, em relação ao saldo comercial que é essencial para a estratégia de crescimento sustentado e a redução da vulnerabilidade externa - disse.

Apesar da desvalorização contínua do dólar em relação ao real ao longo do ano, fazia um bom tempo que Furlan não se queixava do câmbio. Desde a semana passada - quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o dólar deveria ficar entre R$ 2,9 e R$ 3,10 -, o ministro voltou a reclamar da sobrevalorização do real.

Para Furlan, o câmbio influenciou o crescimento das importações em novembro, o que impactou negativamente o saldo da balança comercial.

- Isso tem a ver com o aquecimento do mercado interno, mas tem a ver também com os produtos de consumo que começam a entrar com velocidade maior, estimulados pela taxa de câmbio - disse ele. O ministro deixou claro que considera o atual valor do dólar muito baixo.

- No médio prazo, (o real valorizado) desestimula alguns setores. Há segmentos que absorveram custos extraordinários. Todos os setores que usam petróleo e metal tiveram impacto de aumento de custos. Esses segmentos não têm conseguido elevar preços.

Mas as críticas não se restringiram ao câmbio e ambos defenderam a redução das taxas de juros:

- O Brasil não é um país eternamente de juros altos - declarou Furlan.

Para Mercadante, a redução na taxa de juros também é fundamental para deixar o real mais competitivo.

- A queda sustentada na taxa de juros vai fazer com que a taxa de câmbio encontre o melhor momento em termos de equilíbrio - concluiu o senador petista, que defende que o governo aproveite para recompor reservas - hoje em US$ 24,2 bilhões - para negociar a não-renovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2005.

- Temos que nos antecipar e incrementar as reservas, para manter a estabilidade nas contas externas.