Título: Reflexão no dia de combate à Aids
Autor: Rafael Baldo
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2004, Brasília, p. 4

''Não é um dia para se comemorar, mas para refletir as ações da sociedade e do governo com relação à Aids''. A frase da coordenadora da ONG Arco-Íris, Ana Paula Prado, marcou as comemorações do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, ontem na Torre de TV. Um imenso laço vermelho, formado por estudantes e membros de entidades de combate à doença simbolizou a luta contra a Aids. Até dia 5 de dezembro, nove grupos teatrais percorrerão escolas públicas nas sete regiões administrativas com maior incidência da doença para conscientizar os alunos sobre os riscos. No domingo, todos os grupos se apresentarão na frente da Torre de TV, a partir das 10h.

A ação pretende informar cada vez mais a população sobre as formas de prevenção e lutar contra o preconceito que os portadores da doença ainda sofrem.

- Está havendo uma ''pauperização'' da epidemia. Atualmente os casos são mais numerosos nas satélites e em população com baixa renda - explica Josenilda Gonçalves, coordenadora da Gerência de DST/Aids do DF.

Os casos são mais freqüentes em Santa Maria, Paranoá, Planaltina, Riacho Fundo, Ceilândia, Gama e Taguatinga - uma inversão no mapa da Aids no Distrito Federal, que começou em 1980 com casos concentrados somente no Lago Sul e Plano Piloto.

As ONGs aproveitaram o dia também para exigir políticas específicas no tratamento e prevenção da doença. Por outro lado, o secretário-adjunto de Saúde, Mário Horta, reforçou as conquistas na área.

- Nenhum caso de transmissão vertical, ou seja, da mãe para o filho, aconteceu no Distrito Federal - contou.

O diretor da ONG Estruturação, Márcio Koshaka, acompanha as ações distritais, mas acredita que só a ampliação das políticas sociais para combater a Aids aliviará o problema. O Estruturação distribui preservativos e lubrificantes para a comunidade homossexual do Plano Piloto, além de promover palestras e oficinas de sexo seguro.

- Os homossexuais são invisíveis para os tratamentos de saúde. Não há treinamento dos profissionais para as especificidades da comunidade - reclama Koshaka.

Ana Paula Prado, da ONG Arco-Íris, concorda com o colega e afirma que as políticas de saúde atuais são ineficientes para os portadores da Aids.

- Falta leitos e até remédios. O governo distrital prendeu R$ 1 milhão da verba repassada do Ministério da Saúde - comenta Ana Paula. A Secretaria de Saúde, no entanto, afirma que 40% deste dinheiro já foi liberado para compra de remédios e preservativos.

O último levantamento do Ministério da Saúde mostrou que 600 pessoas desenvolveram a doença em 2003 no Distrito Federal, mas a Secretaria de Saúde apurou 263. A diferença pode estar na metodologia. A pesquisa distrital acredita na duplicação de nomes nos cruzamento dos dados do Sistema Nacional de Agravos e Notificações com os exames de laboratórios particulares.