Título: Protestos chegam a Moscou
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Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2004, Internacional, p. A-9

Manifestantes contra e a favor da oposição ucraniana vão às ruas na capital russa

KIEV e MOSCOU - Manifestações contra e a favor do líder da oposição ucraniana, Viktor Yushchenko, ocorreram ontem em Moscou. Participaram do ato liberais que apóiam o candidato à Presidência na ex-República soviética e comunistas que o acusam de dividir a Ucrânia.

As duas manifestações concentraram centenas de pessoas e se realizaram em frente à sede do Ministério russo das Relações Exteriores.

Militantes da União de Forças de Direita (SPS) chegaram com lenços alaranjados, símbolo da oposição ucraniana, e acusaram a Rússia de prejudicar a Ucrânia aplicando uma ''política expansionista'' em relação com o país vizinho. Comunistas radicais também chegaram à sede da chancelaria, aos gritos de ''a Ucrânia está unida'' e ''Yushchenko não passará''.

O candidato da oposição, por sua vez, declarou ontem que recebeu ameaças de morte. Yushchenko suspeita ter sido envenenado durante a campanha, quando sofreu de um mal misterioso que deixou seu rosto desfigurado.

O líder da oposição afirmou também que sua segurança pessoal será uma questão importante na repetição do segundo turno presidencial, em 26 de dezembro.

Mas mesmo com a decisão de sexta-feira da Suprema Corte de realizar nova votação a oposição e o governo não conseguem chegar a um acordo.

O presidente da Ucrânia Leonid Kuchma convidou mediadores estrangeiros a assistir uma mesa redonda que seria realizada hoje, mas o porta-voz do Alto Representante para a Política Exterior da União Européia (UE), Javier Solana, disse ontem que esta reunião não ocorrerá. A Presidência ucraniana não comentou a respeito.

O Governo, que defende a vitória do primeiro-ministro pró-russo Viktor Yanukovich quer uma reforma constitucional que reduza os poderes do presidente.

Segundo o governo, a oposição impediu, no sábado, no Parlamento, a aprovação da reforma constitucional e da nova lei eleitoral.

- Caso seja aprovado o texto em sua forma atual, todos os poderes do presidente passariam para o Parlamento. Isso é inaceitável - destacou Iulia Timochenko, parlamentar do grupo de oposição.

Entre as emendas propostas pelos adversários do governo está a restrição do voto fora do local de residência e do efetuado em casa, o que, aparentemente, foram motivos de várias fraudes no pleito de 21 de novembro.

A ''revolução laranja'', liderada pelo líder opositor Viktor Yushchenko, aumentou ontem a pressão sobre o presidente da Ucrânia, Leonid Kuchma, para que destitua o mais rápido possível o Gabinete do primeiro-ministro Viktor Yanukovych, que recebeu um voto de desconfiança do Parlamento ucraniano, na semana passada.

Numa aparição na Praça da Independência de Kiev, Yushchenko deu ontem prazo de três dias, até a próxima quarta-feira, para que as autoridades cumpram as três principais reivindicações das forças da oposição: destituição do governo de Viktor Yanukovich e da Comissão Eleitoral Central, além de emendas à lei eleitoral.