Título: Foco sobre a inflação
Autor: Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2004, Economia & Negócios, p. A-17

O papel da taxa Selic foi fortalecido em junho de 1999 quando o governo Fernando Henrique Cardoso criou o sistema de metas de inflação, durante a gestão de Pedro Malan no Ministério da Fazenda. O regime, estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e balizado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, medido pelo IBGE), foi criado para que o governo conseguisse orientar as expectativas do mercado e, desta forma, evitasse pagar juros tão altos para rolar sua dívida. Com a meta fixada para inflação, o BC afrouxa (reduz juros) ou aperta (eleva) a política monetária, estimulando ou freando o consumo.

- Quando a política econômica passou a se pautar pelas metas de inflação, o grande referencial passou a ser a taxa de juros. Assim, a Selic passou a ter toda essa visibilidade porque o Banco Central fica obrigado a mover os juros para manter o IPCA dentro da meta estabelecida - explica Paulo Eduardo Sampaio, superintendente-geral da Andima.

Como a Selic é um parâmetro para os juros pagos pelos bancos nos depósitos a prazo, as instituições financeiras definem, a partir dela, quanto irão cobrar nos empréstimos a empresas e pessoas físicas. Daí a importância das decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre a taxa. Analistas chamam a atenção, no entanto, para o abismo entre a Selic e os juros praticados no varejo.

- As diferenças entre a taxa básica e as outras taxas cobradas ao consumidor são enormes. Na pessoa física, por exemplo, superam 750%. E quando a Selic é elevada, o repasse às demais taxas demora cerca de 15 dias. Mas quando cai, muitas empresas esperam para reduzir seus juros - critica Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).