Título: Empresas brasileiras são pouco globalizadas
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2004, Economia & Negócios, p. A-19

Especializado em economia asiática, o economista Eduardo Tonooka, da LCA Consultores, traça um paralelo entre o comportamento do Brasil e da Coréia do Sul em relação ao nível de abertura da economia. Ele considera que a República da Coréia elegeu as exportações como uma estratégia de crescimento ainda nos anos 70, ao passo que no Brasil a recente reativação do comércio com o exterior está mais relacionada à desvalorização do câmbio, situação que agora começa a arrefecer. Tonooka disse que outra questão a ser avaliada e que dá a medida do maior ou menor grau de globalização entre os dois países é a diferença de atuação entre as multinacionais. No Brasil, empresas com maior grau de abertura, como Vale do Rio Doce, Sadia, Petrobras, Odebrecht caracterizam-se mais por manter escritórios de representação no exterior.

Na Coréia do Sul, as empresas de tecnologia optaram por instalar unidades de produção no exterior. A Samsung possui 97 bases em 46 países, incluindo a fábrica da Zona Franca de Manaus, e a Hyundai possui montadoras em nove países.

Uma vantagem apontada por especialistas é que o Brasil ingressa em 2005 com alguns planejamentos definidos. A política industrial, que privilegia as áreas de semicondutores, software, bens de capital e fármacos, acaba de ganhar o reforço da aprovação da Lei de Inovação, que estabelece estímulos à pesquisa científica e tecnológica. Agora, batalha-se para que o Congresso vote ainda neste ano o projeto que institui a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, que será o braço operacional da política industrial.

Do outro lado do globo, essas iniciativas chamam a atenção. O diretor do Centro para Estudos de Economias Regionais da Coréia do Sul, Won-Ho Kim, salientou que o Brasil possui condições de avançar no desenvolvimento e exportação de produtos de valor agregado.

Ele sugeriu que o país acelere a transferência da tecnologia e do conhecimento produzidos nas universidades para as empresas.

- O Brasil possui bons cientistas, mas precisa haver maior relação entre os centros de pesquisas e as empresas - afirmou Kim.

A Lei de Inovação, sancionada no último dia 2, autoriza empresas incubadas em espaço público a compartilharem infra-estrutura, equipamentos e recursos humanos na criação de produtos e processos inovadores. A nova legislação pretende incentivar parcerias entre empresas, centros de pesquisa e universidades. De sua parte, o governo sinaliza com incentivos para as empresas que investirem em pesquisa e inovação.