Título: O exemplo que vem da Coréia do Sul
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2004, Economia & Negócios, p. A-19

País asiático privilegia exportações há três décadas e já tem o dobro da presença brasileira no mercado internacional A expansão de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano até setembro surpreende pela capacidade da economia brasileira tem de reagir positivamente em um ambiente de juros altos, carga tributária elevada e consumo limitado. A força da resposta dos negócios evidencia a resistência do setor privado e da demanda e sinaliza a capacidade do país de crescer a taxas superiores a 3,5% ao ano, desde que o ambiente seja favorável. Na virada do ano, o planejamento se impõe. Em 2005, mais que em 2004, a disposição do governo em ampliar o investimento público como o indutor do investimento privado dará a medida da velocidade da recuperação da infra-estrutura. Do lado das empresas, a questão que se coloca é se as exportações manterão o mesmo vigor, uma questão relacionada ao nível de globalização da economia brasileira.

A Coréia do Sul possui uma experiência a ser considerada. O rápido avanço da República da Coréia sobre o comércio internacional é em parte explicado pela ação de empresas de tecnologia que se tornaram globalizadas. Do total exportado pela Coréia do Sul, que deverá atingir neste ano US$ 200 bilhões neste ano, 14% (US$ 28 bilhões) é feito pela Samsung Electronics, uma das poucas companhias que detêm a tecnologia dos semicondutores, área escolhida pelo Brasil como prioritária em sua nova política industrial.

A Hyundai é outra companhia coreana globalizada. A montadora possui capacidade de produção de 5.600 automóveis por dia (um automóvel a cada 12 segundos) e atingirá este ano um recorde de exportação, com 10 milhões de unidades vendidas no exterior. A Hyundai possui unidades de produção em nove países e um porto próprio em Ulsan, no sul da península coreana.

Tendo as exportações como suporte e, principalmente, a venda de produtos de alto valor agregado menos vulneráveis ao mercado internacional das commodities, a Coréia do Sul, é hoje a 10ª economia mundial. O país mantém um desenvolvimento contínuo nos últimos 40 anos e uma taxa de desemprego de 3% para uma população de 47,6 milhões de habitantes.

Na semana que passou, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, comemorou os números que mostraram o crescimento da economia brasileira. Até mesmo a retração de 0,2% do PIB em 2003 - um ano de forte ajuste nos gastos públicos e de elevação dos juros - foi revisada pelo IBGE e se converteu em uma ligeira expansão de 0,5%. A mudança não passou despercebida. O ministro alegou que o país atravessou o ajuste sem perdas.

Em meio à ampla análise, uma das declarações do ministro chamou a atenção:

- Se há um arrefecimento das exportações, não é por um movimento cambial, mas por um forte aumento da absorção doméstica, dada pelo consumo das famílias, do governo e das empresas - avaliou Palocci.

De janeiro a novembro, as empresas brasileiras venderam ao exterior US$ 87,280 bilhões, cifra recorde e 31,6% acima do montante negociado em 2003. No entanto, as exportações, motor da arrancada em 2003 e do fortalecimento dos negócios neste ano, começam a emitir sinais de enfraquecimento. Em novembro, as vendas feitas no exterior recuaram 7,7% na comparação com outubro.