Título: Delegado pretende mudar atendimento na DCA
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Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2004, Brasília, p. D-3

O novo delegado-chefe da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), José Adão Rezende, no cargo desde 16 de novembro, está disposto a revolucionar a delegacia que assumiu. Para Rezende, o sistema não tem competência para ressocializar os menores delinqüentes. O delegado acredita que, por meio de convênios com a iniciativa privada e com universidades, poderá mudar essa realidade, ao menos na ponta do sistema, ou seja, o local onde os menores tem o primeiro contato com o Estado. - A gente tem um xadrez aqui (na DCA) que é mais inóspito do que uma cela na Papuda. Não tem condições. Vou mudar isso - diz.

O delegado diz gostar do tema e tem experiência na área. Rezende trabalhou na DCA entre 1997 e 2001 e foi vice-diretor do Caje por um ano, entre 2002 e 2003. Ele afirmou que a maioria dos delitos cometidos pelos adolescentes são leves ou médios. Porém, concorda que o ato infracional leve é o primeiro passo para logo alcançar os graves e violentos.

De acordo com Rezende, a juventude bandida se apoia em um tripé: o vício em drogas, a alto afirmação juvenil e a ''falsa idéia de impunidade''.

- É uma idéia equivocada essa de impunidade. Ele não é punido penalmente, mas é responsabilizado.

Para Rezende, o Estatuto da Criança e do Adolescente (DCA) não dá privilégios aos menores infratores, tampouco é frouxo. O delegado disse que o Estado é que não tem a estrutura necessária para remodelar os delinqüentes.

- Tem assistente social cuidando de 50 jovens ao mesmo tempo. O ECA é de primeiro mundo, o Brasil é que não é. O problema é conjuntural - garante.

O projeto de Rezende é conseguir recursos para reformar as celas da delegacia, promover o aperfeiçoamento dos policiais e formalizar parcerias com universidades. A idéia é que, psicólogos, assistentes sociais e outros especialistas recebam o jovem infrator.

Rezende explicou que a prisão em flagrante e a estadia na DCA geram traumas logo no início de um processo que deveria ser de recuperação.

- Ele (adolescente) chega aqui algemado e é entregue a um agente que o trata como criminoso. O tempo e à noite em que ele passa aqui poderia ser mais útil. Uma conversa poderia mudar sua vida - afirma Rezende.