Título: História inacabada
Autor: Luiz Orlando Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2004, País, p. A3

A decisão proferida ontem pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, obrigando o governo a abrir os arquivos com dados dos mortos na Guerrilha do Araguaia, vem no mesmo sentido das promessas do Ministério da Justiça sobre este tema polêmico. Inicialmente reticente em tomar medidas mais fortes, o Planalto acabou se vendo forçado a se posicionar sobre a questão, pressionado por entidades da sociedade civil e pelo Congresso.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, confirmou mais de uma vez que os arquivos serão abertos sem sobressaltos. Há duas semanas, a Câmara formou uma comissão para acelerar a abertura dos arquivos do regime. Nomeada pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), a comissão terá como relator o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que foi advogado de diversos presos políticos, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde o início do governo, Greenhalgh transformou a questão dos desaparecidos no Araguaia - e em todo o período militar - numa de suas bandeiras políticas principais.

O surgimento de um conjunto de fotos, inicialmente identificadas como sendo do jornalista Wladimir Herzog, morto durante o regime militar, também serviu para jogar lenha no debate sobre os arquivos da ditadura. Mesmo sendo identificada posteriormente como sendo a do padre Leopoldo D'Astous, o impacto do material reabriu no governo as feridas do passado.

O Exército soltou uma primeira nota oficial classificando como naturais as práticas de tortura contra os opositores ao regime. Explosiva, a nota foi revista e uma outra foi divulgada, corrigindo as informações da primeira e defendendo os princípios democráticos. O episódio colocou em confronto o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque e o ministro da Defesa, José Viegas, que acabou pedindo demissão do cargo. O vice-presidente, José Alencar, acabou sendo indicado para acumular a pasta com as tarefas típicas do segundo nome na hierarquia presidencial.

Outro que perdeu a batalha contra o governo foi o presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos políticos, João Pinaud. Com duras críticas, ele pediu demissão, sendo substituído por Augustino Veit.