Título: Governo tenta abortar convenção do PMDB
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2004, País, p. A5

Ministros articulam permanência do partido na bancada

Convencido do peso do PMDB na sucessão presidencial em 2006, o Planalto intensificou a ofensiva para abortar a convenção nacional do partido marcada para domingo, que poderá decidir pelo desembarque dos peemedebistas do governo.

A possibilidade de o PMDB governista perder a queda-de-braço com os defensores da entrega dos cargos federais acendeu o sinal de alerta no governo. Ontem, os ministros Aldo Rebelo, da Coordenação Política, José Dirceu, da Casa Civil, e Eunício Oliveira, das Comunicações, dispararam telefonemas na tentativa de virar votos dos oposicionistas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva monitorava o placar com o líder do PMDB no Senado, senador Renan Calheiros (AL) - um dos articuladores, com o presidente do Senado, José Sarney (AP), do adiamento da convenção. Lula e Renan trocaram pelo menos quatro telefonemas.

Até o fim da tarde de ontem, o Planalto não tinha segurança da maioria peemedebista numa possível convocação da Executiva, única instância capaz de deliberar sobre o adiamento. Emissários do governo falavam em uma ''solução negociada''.

- Não interessa a divisão do PMDB. Vamos trabalhar até o último segundo para encontrar uma saída que contemporize, que não divida o partido - afirmou Eunício Oliveira.

Rumores davam conta de um encontro entre o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o presidente Lula, que não foi confirmado até o fim da noite de ontem.

Embora a maioria dos estados defenda a permanência no governo Lula, as regionais favoráveis ao desembarque, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, somariam mais votos.

Governistas e ''independentes'' garantem ter maioria na Executiva do PMDB. Segundo Eunício, os aliados possuem 16 votos. Os defensores da entrega dos cargos dizem contar com votos considerados certos pelos governistas. O ex-deputado Renato Vianna (SC), aliado do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), teria ligado ontem para o governador do Paraná, Roberto Requião, confirmado sua oposição ao adiamento.

- Falar em saída negociada é desespero, discurso de quem não tem votos - provocou um ''independente''.

- Já que o Temer defende a entrega dos cargos, por que não desembarca da presidência dos Correios? - questionou um governista, referindo-se à indicação de João Henrique de Almeida Sousa.

As negociações devem prosseguir hoje. O presidente Lula aguarda o PMDB para anunciar novas alterações nos ministérios. Sua intenção é contemplar o PMDB com mais uma pasta, provavelmente a das Cidades. Outra vaga será aberta para o PP.