Título: País é berço do islamismo radical
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Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2004, Internacional, p. A7

O ataque ao consulado americano em Jedá é parte de uma série de atentados que nos últimos 18 meses tem se voltado contra interesses e cidadãos dos EUA na Arábia Saudita. Ao mesmo tempo, reforça a noção de que o país, de fato, muito mais do que o Iraque de Saddam Hussein, é a pedra fundamental do terrorismo islâmico.

Em 12 de maio de 2003, um ataque suicida coordenado pela rede Al Qaeda contou com nove militantes e matou 26 pessoas, em Riad. Seis meses depois, 17 pessoas foram mortas em um atentado a bomba em frente a um dos palácios reais da capital saudita.

Desde então, as autoridades locais já prenderam 600 militantes suspeitos, apreenderam uma grande quantidade de armas e mataram a maior parte de uma lista de 29 procurados por terrorismo.

No entanto, o problema do radicalismo islâmico no país vai muito além das medidas de segurança. O cerne da questão chama-se Wahhabismo e não é à toa que 15 dos 19 terroristas do 11 de Setembro eram sauditas.

O Wahhabismo é uma interpretação do Islã feita pelo poeta Mohamed Ibn'Abd al-Wahhâb (1703-1792) com base no integrismo de Ibn Taymiyya, morto em 1328. A corrente radical torna o indivíduo submisso ao discurso sagrado. Para os wahhabistas, ''Deus é a palavra'' e não ''Deus está na palavra'', daí a busca pelo conteúdo original da escritura, em especial em relação à Jihad - a Guerra em nome da religião.

A crença, da qual o saudita Osama bin Laden se tornou discípulo, foi utilizada como instrumento de unificação do país pela Casa de Saud (família real árabe). O acordo era dar liberdade aos clérigos wahhabis para cuidar da educação da nação, desde que eles apoiassem a liderança real em Riad.

O resultado é um país em tensão constante entre um governo que tem relações econômicas e políticas significativas com os EUA e uma população que, em boa parte, está pronta para cometer atentados suicidas contra americanos e israelenses, vistos como inimigos do Islã, e, por isso, alvos da Jihad.