Título: Terror ataca consulado dos EUA
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Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2004, Internacional, p. A7

Militantes abrem caminho com explosivos e tiros de fuzil e fazem reféns na representação americana em Jedá

Doze pessoas morreram em um ataque terrorista contra o consulado dos Estados Unidos em Jedá, onde durante três horas 18 pessoas foram feitas reféns, na maior ação contra uma representação americana na Arábia Saudita.

No entanto, autoridades nacionais só confirmaram sete mortos: três dos cinco terroristas e quatro policiais sauditas. Mas redes de televisão locais afirmaram que outro cinco cidadãos árabes e asiáticos, funcionários do consulado, também morreram. Quatro americanos ficaram levemente feridos.

A informação extra-oficial teve como fonte a porta-voz da embaixada americana em Riad, Carol Kalin. Ela revelou que quatro dos cinco civis mortos eram empregados consulares, com trabalho administrativo, e um era guarda particular contratado, na folha de pagamento do consulado.

Segundo o presidente dos EUA, George Bush, o ataque em Jedá mostra que ''os terroristas ainda estão no caminho'' e pretendem atrapalhar a eleição no Iraque, marcada para 30 de janeiro.

- Eles querem que deixemos a Arábia Saudita, que deixemos o Iraque, que fiquemos tímidos e cansados diante de sua vontade de matar de forma indiscriminada, assassinando gente inocente. É por isso que a eleição no Iraque é tão importante - afirmou George Bush, após um encontro na Casa Branca com o presidente interino do Iraque, Ghazi al Yawar.

O Ministério saudita do Interior atribuiu o ataque a ''muçulmanos depravados'', termo normalmente usado no país para indicar seguidores do líder da Al Qaeda, Osama bin Laden. Dois extremistas foram presos.

''Nossas forças de segurança agiram imediatamente e deixaram a situação sob controle'', acrescenta o comunicado.

O ataque começou quando pelo menos quatro homens lançaram um veículo carregado com explosivos contra o cerco de segurança do consulado. Os supostos suicidas tentavam ultrapassar as barreiras do prédio, quando começaram a trocar tiros com as forças de segurança que estavam no local. Armados também com granadas, invadiram o consulado e fizeram reféns.

Após nova troca de tiros, os militares conseguiram entrar no consulado e, três horas mais tarde, os reféns foram libertados. De acordo com testemunhas, a operação contou com três helicópteros e mais de 200 soldados do Exército saudita, que cercaram o local. Várias ambulâncias e carros do corpo de bombeiros também foram mobilizados para atender às vítimas e apagar um incêndio no interior do prédio.

- Eles nos deixaram cativos por uma hora, uma hora e meia. Vi dois grupos de quatro a oito pessoas - contou Muaffa Jilan Ibrahim, um iemenita que trabalha na manutenção do consulado, atingido por uma bala no braço. - Eles disseram à polícia, na nossa frente: ''Nós temos reféns, se vocês se aproximarem, atiramos''. Aí nos colocaram como escudos humanos. As forças de segurança invadiram o prédio e houve um intenso tiroteio.

- Os dois lados disparavam e nós estávamos no meio. Nos atiramos no chão e algumas pessoas ficaram feridas - acrescentou o empregado indiano Richard Simon, que está em observação no hospital por ter levado um tiro de raspão na cabeça.

Depois da ação em Jedá, tanto a embaixada em Riad e o outro consulado, em Dhahran, foram fechados, por precaução.

Desde maio, todas as representações estrangeiras são fortemente vigiadas pelos policiais sauditas, pois algumas delas foram atacadas por grupos de radicais islâmicos. No mesmo mês, atiradores tomaram um condomínio de prédios comerciais de companhias de petróleo, na cidade litorânea de Khobar, e executaram cerca de 30 pessoas, a maioria estrangeiros.

Nos dois últimos anos, dezenas de estrangeiros foram mortos na Arábia Saudita por terroristas que estariam ligados à Al Qaeda, mas o ataque de ontem foi o primeiro realizado durante o dia.

É bastante provável que a ação faça parte da guerra que Bin Laden, de origem saudita, declarou ao governo da Arábia Saudita. Ele acusa o país de ser cúmplice do Ocidente.

Situada no Mar Vermelho e a segunda mais importante cidade da Arábia Saudita, Jedá é passagem dos peregrinos que viajam para Meca, o lugar sagrado para o Islã.