Título: Dólar sobe puxado por ação do BC
Autor: Daniele Carvalho e Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2004, Economia & Negócios, p. A17

Meirelles lembra que meta é o controle da inflação e nega que autarquia pretenda determinar piso para taxa de câmbio

Após um temporal de críticas à taxa de câmbio na última semana, quando o dólar chegou a ser negociado a R$ 2,69, o Banco Central finalmente interveio e interrompeu o movimento de queda da moeda americana. Impulsionado por um leilão de compra do BC, o dólar fechou o dia em alta de 0,36%, cotado a R$ 2,719. A autoridade monetária não informou o volume da operação, mas analistas acreditam que os valores não foram expressivos. A atuação do BC voltou a alimentar especulações de que o governo evitaria uma apreciação excessiva do real para evitar impacto sobre as exportações. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, rebateu as críticas de que a intervenção no câmbio seria reflexo de pressões dentro do governo para elevar o patamar do dólar a níveis favoráveis às exportações. E fez questão de frisar que a compra da moeda americana não se trata de intervenção, mas sim de estratégia para a recompor as reservas.

¿ O Banco Central não tem meta de câmbio ou qualquer outra meta associada a este fator. O governo brasileiro, juntamente com o BC, tem o objetivo de recomposição gradual de reservas. A única meta do banco é a de inflação ¿ disse Meirelles, que participou no Rio do Ciclo de Palestras sobre os 25 anos do Selic , organizado pela Andima e pelo BC.

O presidente ressaltou que o Tesouro faz suas compras dentro dos critérios já anunciados, que avaliam, entre outros aspectos, liquidez e volatilidade do mercado.

Há duas semanas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu uma desvalorização do real para um patamar entre R$ 2,90 e R$ 3,10 por dólar, o que, segundo ele, seria o mais apropriado para o país. O comentário causou polêmica dentro do próprio governo e entre analistas. No mesmo período, o Tesouro Nacional anunciou que compraria US$ 3 bilhões até junho de 2005. O efeito, porém, durou apenas um dia e não eliminou a tendência de queda da moeda americana.

À noite, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ressaltou que ¿o governo não tem, nem terá, um piso para o dólar¿.

¿ O governo como um todo e o presidente em particular têm observado os acertos da política econômica, os resultados muito positivos e reafirmado que o caminho que está dando certo ¿ disse, refutando qualquer tipo de pressão.

Para Roberto Padovani, da Consultoria Tendências, o BC atuou quando o dólar ultrapassou um patamar redondo (R$ 2,70) e em um momento de reservas baixas, de US$ 22,3 bilhões em outubro, sem o dinheiro do acordo com o Fundo Monetário Internacional. Mesmo assim ele não vê uma atuação explícita do BC para controlar o câmbio.

¿ A lógica não é tão simples quando lembramos do controle da inflação. O mais provável é que o BC tenha tentado passar a mensagem de que o dólar pode até cair, mas em um ritmo determinado pela autoridade monetária.

O economista e ex-diretor do BC José Júlio Sena, da MCM Consultores Associados, concorda e lembra que a equação se complica quando leva-se em conta o custo da compra dos dólares.

¿ O real apreciado reduz o custo das dívidas brasileiras. Além disso, a principal meta do Banco Central é o controle da inflação e a intervenção de hoje (ontem) foi uma operação isolada, que não vai determinar um piso para o câmbio. Me parece que o BC apenas sinalizou que vai aproveitar períodos de calma no mercado para comprar dólares ¿ ressalta.

O ex-diretor de Política Monetária do BC Sérgio Werlang, no entanto, ressaltou que a operação deveria partir do Tesouro e não do BC.

¿ Dessa forma, está admitindo (o BC) que existe um piso para a taxa de câmbio ¿ explica ele, hoje no Itaú.

Na opinião do economista, já era tempo de o BC intervir.

¿ Não deixaria baixar de R$ 2,85 e isso presumindo um cenário muito positivo para o mercado externo em 2005.

Segundo Werlang, as reservas internacionais estão baixas e o BC deve intensificar a recomposição dos recursos até o patamar de US$ 35 bilhões.

Ele disse ainda que o BC poderia ter optado por antecipar vencimentos para reduzir a pressão no câmbio e também a vulnerabilidade sem grandes choques.

¿ Acho que devemos ser conservadores e optar pela redução da vulnerabilidade.