Título: Denúncia frustra jogo político de governador
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2005, País, p. A2

Saiu pela culatra o tiro com o qual o governador do Maranhão, José Reinaldo (PTB), pretendia ferir de morte a indicação da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) para o ministério de Lula. A aguardada entrevista-bomba concedida ontem num hotel de Brasília soou como um blefe. Pior: provocou o chamado efeito bumerangue, voltando-se contra ele mesmo.

Durante a entrevista, Reinaldo entrou em contradição diversas vezes ao tentar se esquivar das denúncias publicadas no último final de semana pela revista Veja, de que o governo do Estado teria contratado, a R$ 20 milhões, 20 obras fantasmas. Ou seja, que foram pagas, atestadas pelos fiscais do estado, mas não saíram do papel. Algumas estradas ligavam nada a lugar nenhum.

Primeiro afirmou que a revista trouxe à baila algo que o seu governo já estava investigando. Não soube dizer, no entanto, se uma obra a apenas 130 quilômetros de São Luis, capital do estado, fora ou não iniciada, embora tivesse sido paga. Minutos depois, disse ter dado um prazo de uma semana para conclusão das investigações.

Acusou a família do presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), de estar por trás das denúncias. Mas admitiu o total descontrole de sua administração sobre as obras em execução no estado, transferindo a responsabilidade para o ordenador de despesas.

- Não tenho segurança. Não sei se a obra foi feita ou não. Só vou ter (segurança) em uma semana. É por isso que estamos investigando - justificou, dizendo que encaminhou pessoalmente as denúncias ao Ministério Público.

Reconheceu também que o governo contrariou a Lei 8666 conhecida, como Lei das Licitações, ao efetuar o pagamento antecipado às obras.

- É, realmente a lei não permite - respondeu, questionado sobre o assunto.

Reinaldo não conseguiu explicar supostas irregularidades à época em que era secretário de Infra-Estrutura do então governo Roseana Sarney, como o pagamento adiantado a uma obra não realizada - a estrada ligando as cidades de Paulo Ramos e Arame. Jogou a culpa no colo de Roseana.

Segundo ele, a senadora, então governadora, teria autorizado o pagamento do empreendimento fantasma. Ele, o secretário - alegou - teria passado oito meses à frente do cargo sem qualquer influência ou ingerência no setor. Na sua gestão, porém, a culpa integral pelas eventuais irregularidades na contratação de obras caberia ao secretário da área. O governador não teria a prerrogativa de ''autorizar, fiscalizar, ou assinar pagamento para as obras''. De acordo com sua definição, estaria de mãos atadas.

- Não há como o governador impedir que isso (a contratação de obras sem a garantia de que ela será entregue) ocorra. A obra é descentralizada. O secretário manda e o governo não tem conhecimento - afirmou.

No início da entrevista, acuado com a presença maciça da imprensa, permitiu que cada repórter formulasse apenas uma pergunta. Depois, diante da perplexidade dos jornalistas, capitulou. Sobre Roseana, resumiu-se a dizer que ''esqueletos estaduais guardados no armário transformariam-se em esqueletos federais'' caso a nomeação para um ministério se concretize. Instado a opinar sobre se o possível desembarque de Roseana no governo Lula beneficiaria ou não o estado do Maranhão, entrou em nova contradição. Disse que se recusava a comentar o tema. Mas no material distribuído à imprensa, anexou um documento, montado pelo PT do estado, atacando uma eventual nomeação da senadora para cargo de primeiro escalão federal.

- Não fui eu, mas o PT quem elaborou esse documento - alegou.

Ao governo anterior, José Reinaldo atribui todas as mazelas do Maranhão como o fato de a população ter a menor renda per capita do país, dois terço dela viver abaixo da linha da pobreza e o estado apresentar o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano. O rompimento com Sarney, seu padrinho político, Reinaldo creditou a uma tentativa de integrantes do governo anterior, supostamente ligados ao senador, de interferir em sua gestão.