Título: Coisas do Brasil: A hora e a vez de Renan Calheiros
Autor: Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2005, País, p. A2

A eleição para presidente da Câmara recebeu tantos holofotes, dirigidos ao deputado petista, Luiz Eduardo Greenhalgh, que parece nem haver sucessão também no Senado, em 15 de fevereiro. Ao contrário do turbilhão entre os deputados, reina uma paz quase surreal do outro lado do corredor, onde começa o domínio dos senadores.

Na Casa Alta, o senador alagoano Renan Calheiros, do PMDB, desfruta de uma situação tão confortável, que observadores e líderes de partidos chegam a prever que nem adversário terá. Por isso, só mesmo uma hecatombe política poderia tirá-lo do comando do Parlamento nos próximos dois anos. A única coisa que teria esta capacidade era a emenda da reeleição das Mesas, a qual manteria José Sarney no posto, mas foi derrotada no primeiro semestre de 2004.

Hábil, acostumado aos meandros do poder desde que era líder do governo Collor. Como integrou uma gestão desastrosa em todos os aspectos, era de se supor que sucumbisse como ocorreu com seus ex-aliados. Mas teve luz própria para chegar até aqui. Na era Lula, Renan soube ser um bom aliado do Palácio do Planalto.

Em 2003, chegou a contestar a indicação e o apoio de Sarney, sob o argumento de ter mais votos na bancada e, portanto, teria prioridade. Ocorre que o ex-presidente tinha Lula ao lado e maior inserção em todas as legendas, eleitas para controlar 81 cadeiras do Senado.

Aí, Renan recuou, deixou mágoas de lado e se amparou num decantado acordo feito com o ministro José Dirceu, da Casa Civil, pelo qual seria o homem da hora e da vez para suceder o colega José Sarney.

Fez muito mais. O líder peemedebista tornou-se essencial para o governo. Com sua ajuda, Lula aprovou demandas no Legislativo, como as reformas da Previdência e tributária, além das leis da Parceria Público Privada (PPP) e de Falências.

Renan é polido no trato com os interlocutores. Mantém a calma, mesmo quando os olhos avisem que não gostou de uma assertiva, golpe de adversários ou pergunta de jornalista. Mede as palavras e os gestos. É esse político que agora está a meio passo de realizar o sonho de presidir o Senado que acalentou por tantos anos.