Título: Ex-líder da KKK é preso
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 08/01/2005, Internacional, p. A9

Mais de 40 anos depois, um ex-líder da organização racista Ku Klux Klan (KKK), no Estado de Mississippi (Sul dos EUA), foi preso pelo assassinato cometido em 1964 de três militantes de direitos civis - um caso que ficou famoso pelo filme Mississippi em chamas (1988), do diretor Alan Parker.

Apelidado ''o pregador'', desde que foi ordenado pastor de uma igreja metodista, Edgar Ray Killen, de 79 anos, foi preso em casa, sem resistência, na noite de quinta-feira, na cidade rural de Filadélfia. O anúncio da prisão foi feito pelo xerife do condado de Neshoba, cenário dos assassinatos de 1964.

Esta é a primeira acusação por assassinato no caso, que abalou os EUA ao tornar claras as práticas segregacionistas então predominantes em alguns estados do Sul.

Em 21 de junho de 1964, três jovens militantes de direitos civis, dois brancos e um negro, Michael Schwerner, 24 anos, Andrew Goodman, 20 anos, e James Chaney, 21 anos, chegaram de carro a Neshoba, onde uma igreja freqüentada por negros havia sido incendiada alguns dias antes.

- Demorou muito - afirmou Carolyn Goodman, de 89 anos, mãe de Andrew Goodman, um dos militantes assassinados. - Mas eu sabia que algo assim ia acontecer. É algo que tinha de acontecer.

Os três faziam parte de uma associação, CORE, encarregada de ajudar os negros a se inscreverem para votar. Pouco depois da chegada, foram presos pelo xerife adjunto do condado, Cecil Price. Libertados em plena noite, eles caíram em uma emboscada organizada pela KKK, que fora avisada por Price. Os corpos dos jovens foram encontrados em 4 de agosto do mesmo ano em uma represa.

Dezenove membros da Klan, entre eles Edgar Killen, foram detidos semanas depois do triplo assassinato, mas nenhum foi acusado de homicídio. Sete pessoas, mas não Killen, foram indiciadas por violação dos direitos civis dos desaparecidos, e condenados - por um júri somente de brancos - a penas de três a 10 anos de prisão.

Ontem, o xerife Myers anunciou que novas detenções podem seguir a de Killen. Outras sete pessoas suspeitas do assassinato ainda estão vivas.

Uma delas, Billy Wayne Posey, considerou ''ridícula'' a reabertura tardia do caso.

- É um pesadelo - afirmou.

James McIntyre, advogado de Jimmy Arledge, outro envolvido, frisou que ''este é um dia triste para o Mississippi''.

- Antigas feridas serão reabertas - lamentou.

O caso dos três desaparecidos do condado de Neshoba havia sido reaberto em 1999 pelo departamento de Justiça do Estado do Mississippi, depois da publicação por um jornal local de trechos de um depoimento de Sam Bowers, um dos condenados no caso e principal dirigente da Klan na região.

Bowers, que cumpria pena de prisão perpétua pelo assassinato de um militante negro, afirmou que estava feliz com o fato de o cérebro do triplo homicídio de Neshoba ainda estar em liberdade.

Killen sempre negou ter feito parte no assassinato dos militantes. No entanto, disse à imprensa, no ano passado, que os responsáveis ''agiram em legítima defesa''.

Morris Dees, professor de uma escola de direito em Alabama, disse à rede CNN que a reabertura do caso representava um momento ''importante''.

O deputado democrata do Estado de Geórgia, John Lewis, militante dos direitos civis nos anos 60, ao lado dos três jovens assassinados, declarou estar ''muito feliz'', em uma entrevista à rede NBC.

- Este momento demorou tanto para chegar! É triste que tenha levado mais de 40 anos.