Título: Chávez alerta Colômbia
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/01/2005, Internacional, p. A9

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou as autoridades colombianas de estarem mentindo sobre a captura do rebelde marxista Rodrigo Granda, considerado como um ministro das Relações Exteriores das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Chávez afirmou que Granda foi preso dentro do território venezuelano, na própria capital Caracas, enquanto Bogotá afirma que o rebelde foi detido na cidade colombiana de Cúcuta, na fronteira entre os dois países.

A declaração, feita no domingo, foi publicada ontem pelo jornal venezuelano El Nacional.

- Esta é uma situação séria. A próxima vez que a polícia colombiana violar a soberania da Venezuela as relações bilaterais sofrerão conseqüências - disse Chávez.

De fato, Venezuela e Colômbia não possuem hoje laços dos mais amistosos. O presidente colombiano, Alvaro Uribe - um conservador aliado dos EUA e do Plano Colômbia, com passado ligado aos paramilitares locais, inimigos ferrenhos dos rebeldes marxistas da Farc - acusa Chávez, partidário notório de uma suposta revolução bolivariana no continente, de conceder abrigo às tropas das Farc em território venezuelano.

Recentemente, Hugo Chávez deu sinais de que gostaria de aprimorar as relações com o vizinho, inclusive com um projeto de acordo conjunto sobre um oleoduto ligando os dois países. Até por isso, isentou Uribe nas declarações de domingo.

- Não há dúvidas. A polícia colombiana está mentindo. Quando eles dizem que Granda foi capturado em Cúcuta, eles estão mentindo ao presidente Uribe - disse o líder venezuelano.

Segundo Caracas, Granda foi detido perto de uma estação de metrô na capital, aparentemente por agentes colombianos com a ajuda de policiais da Venezuela.

O detido tem identidade venezuelana e registro eleitoral no país.

Segundo a investigação local, Granda teria feito uma ligação de celular de Caracas, logo depois da captura.

- Não tenho dúvidas de que ele foi seqüestrado. Nós temos provas - disse Chávez.

As Farc, que dizem simpatizar com o projeto do presidente venezuelano de combater a pobreza no quinto maior exportador de petróleo do mundo, afirmam que Granda foi preso por agentes colombianos com a ajuda de espiões americanos.

Em Bogotá, o governo colombiano rejeitou as acusações e garante que não houve invasão do espaço territorial venezuelano.

- Nem o Exército colombiano, nem a polícia violou o território da Venezuela ou qualquer território de países vizinhos - afirmou o ministro da Defesa Jorge Alberto Uribe.

As Farc lutam contra o governo colombiano desde 1965 e têm hoje cerca de 18 mil homens no combate. Mais de 30 mil pessoas já morreram no conflito que envolve outras organizações como o ELN (3,5 mil homens), Exército de Libertação Nacional, também de tendências marxistas, e as AUC (12 mil homens), Autodefesas Unidas da Colômbia - paramilitares de direita.

A guerra civil desloca o terceiro maior contingente populacional refugiado de guerra do mundo, atrás apenas dos conflitos em Angola e no Sudão, já oficialmente pacificados.

A Colômbia é o terceiro país da lista dos maiores receptores da ajuda financeira americana, atrás apenas de Israel e do Egito, e produz 80% da cocaína consumida nos Estados Unidos.