Título: Alternativa para as estradas
Autor: Renato José Giusti
Fonte: Jornal do Brasil, 11/01/2005, Outras opiniões, p. A11

O Brasil tem de vencer grandes desafios na área de infra-estrutura para manter a taxa de crescimento de 3,5% a 4% nos próximos anos, como prevê o governo. Um desses desafios é melhorar a situação de nossas estradas. Mais de 80% das rodovias federais brasileiras estão deterioradas a tal ponto que já ameaçam a expansão econômica puxada pelas exportações e pelo agronegócio. A liberação de R$ 180 milhões anunciada pelo governo permitirá apenas um começo de recuperação. Como a verba é reduzida, é imprescindível que seja usada da melhor maneira possível, com soluções econômicas e duradouras. A pavimentação de concreto é uma alternativa mundialmente consagrada.

Dos quase 1 milhão e 700 mil quilômetros da malha rodoviária nacional (federal, estadual e municipal), apenas 165 mil estão pavimentados. E apenas 2% têm pavimentação de concreto. Esta, porém, é seguramente a melhor escolha para estradas com tráfego intenso e pesado como as principais rodovias de escoamento da produção nacional. Não é por acaso que grande parte das estradas está hoje em péssimas condições.

Esses dados são ainda mais estarrecedores se analisarmos os resultados obtidos pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em sua pesquisa rodoviária 2004. Dos 74.681 km de rodovias pesquisadas, em todo o Brasil, 56,1% da extensão, ou seja, quase 42 mil quilômetros apresentam pavimento em estado deficiente, ruim ou péssimo e 74,7% têm algum grau de imperfeição.

O pavimento de concreto tem, em geral, uma vida útil de 30 anos. O gasto com manutenção é seis vezes menor que nas outras opções e os reparos são mais simples e baratos. O concreto exige menos gastos públicos com iluminação, por causa da cor clara, e aumenta a segurança nas estradas, pois diminui a distância de freagem em quase 40%. Estudos internacionais demonstram que, para os motoristas, a economia no consumo de combustível gira em torno de 11%. Para caminhões, a economia pode ser de até 20% quando se trafega sobre o pavimento de concreto e quanto mais pesado for o veículo, maior é a economia de combustível. Acrescente-se a essas vantagens o fato do cimento ser um produto nacional. Incentivar o seu uso, portanto, é promover o aumento de empregos no país.

A pavimentação de concreto já foi utilizada intensamente nas estradas brasileiras até a década de 50. O desenvolvimento dos pavimentos flexíveis, aliado aos preços oferecidos, fez mais intenso o uso dessa alternativa. A alta do petróleo e as novas tecnologias e equipamentos desenvolvidos tornaram competitivo o custo inicial de uma rodovia pavimentada com concreto. Se considerarmos os benefícios posteriores, temos uma solução extremamente vantajosa. Daí seu reingresso na malha viária brasileira.

Nos Estados Unidos, aproximadamente 20% das estradas utilizam o concreto. Na Alemanha todas as estradas de alta velocidade são de concreto. Na América Latina, o Chile é o país que mais usa concreto em sua malha rodoviária.

O Brasil tem experiências recentes bem-sucedidas. No Rodoanel Mário Covas, em São Paulo, por exemplo, a escolha do concreto permitiu uma pavimentação com economia de tempo e de recursos. E resultou em uma estrada muito mais segura para os motoristas. Uma conquista para um país em que morrem 60 mil pessoas por ano em rodovias esburacadas, que também não dão conta de transportar a produção nacional.

Agora que o governo começa a recuperar a malha rodoviária, estamos no momento certo para mudar esse quadro. É hora de fazer uma opção simples, barata, segura e concreta.