Título: Exército vai às favelas buscar armas
Autor: Marco Antônio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 11/01/2005, Rio, p. A13

A união entre as áreas de segurança do governo federal e estadual contra o crime começa a ser acertada na manhã de hoje. O secretário de Segurança Pública do Rio, Marcelo Itagiba, apresentará detalhes de um plano de ações integradas que as instituições públicas terão que cumprir para a repressão ao tráfico de drogas e armas. Entre as sugestões está a atuação das Forças Armadas na busca de armamento roubado de seus paióis e a criação de uma espécie de cinturão pelas polícias Federal e Rodoviária Federal numa tentativa de impedir a entrada desses produtos no estado. O encontro, que acontecerá na sede da Secretaria de Segurança Pública, no Centro, será o primeiro do Gabinete de Gestão Integrada (GGI), coordenado por Marcelo Itagiba. O tema principal é o tráfico de drogas, que, segundo as autoridades da área de segurança, vem sendo o responsável por alimentar estatísticas de delitos como venda irregular de armas e corrupção policial. A possibilidade de ações em conjunto não está descartada, mas a intenção inicial é que cada instituição atue em sua área.

As Forças Armadas vão ser mobilizadas para ir a morros e favelas em busca de suas armas, munições e explosivos que vêm sendo retirados de seus paióis. Existe ainda na cúpula da Secretaria de Segurança Pública preocupação sobre os fuzis e pistolas que vêm sendo roubados de policiais militares.

Os núcleos de inteligência do estado têm informações de que traficantes do Comando Vermelho da região de Manguinhos e Jacarezinho seriam os responsáveis por ataques sofridos por PMs naqueles bairros.

Ao mesmo tempo, grupos de maus policiais estariam envolvidos no vazamento de informações e na venda de armas para facções como o consórcio formado pelos criminosos da Amigos dos Amigos e do Terceiro Comando.

- O policial é a ponta de uma linha que vai até o Congresso Nacional, como já ficou provado em outras investigações da Polícia Federal. Vamos combatê-lo, porque servidores assim não vendem sua alma por uma facção, mas pelo dinheiro - afirmou o secretário Marcelo Itagiba.

Já a Polícia Federal faria um trabalho sobre os financiadores do tráfico e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) uma repressão maior na entrada de drogas no estado. A PRF, por exemplo, possui um levantamento sobre as rotas utilizadas pelos criminosos na chegada da maconha ao Rio. As cidades de Capitán Bado e Pedro Juan Caballero, no Paraguai, seriam os pontos de partida para a droga que chega ao Rio. No ano passado, mais de 40 toneladas do entorpecente foram apreendidos no Mato Grosso do Sul. No estado, a PRF apreendeu cinco toneladas de maconha na principal via de entrada, a Rodovia Presidente Dutra.

- Acho que há trabalho para todo mundo. Precisamos acertar isso. O trabalho que será desenvolvido pelo Rio se tornará modelo para outros estados do país - afirmou Itagiba, que após apresentar a proposta aos integrantes do GGI irá também à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), ligada ao Ministério da Justiça.

O GGI é composto pelo chefe de Polícia Civil, o delegado Álvaro Lins, pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Hudson Aguiar, e por representantes da PF, da PRF e da Senasp.

As ações integradas entre os governos federal e estadual já começaram a ser realizadas em dezembro passado com a vinda ao Rio do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Na ocasião, ficou acertada a presença de homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) no treinamento para a Força Nacional, grupo de elite formado pelo Ministério da Justiça.

Os policiais militares do Bope vão dar o treinamento e ainda aulas na sede da corporação, no alto do Morro do Pereirão, na Zona Sul. Além disso, também vem sendo realizada a integração entre as agências de inteligência dos governos estadual e federal na troca de informações sobre o crime no Rio.