Título: Além do Fato: O rumo do Brasil depende de nós
Autor: Ruy de Salles Cunha
Fonte: Jornal do Brasil, 11/01/2005, Economia, p. A18

O ano de 2004 marcou uma virada entre a expectativa de bons resultados e a realização de índices positivos, com a economia em expansão. Importantes foram: o crescimento de 5,3% do PIB; a melhoria do nível de emprego; o aumento dos investimentos; a recuperação da formação bruta de capital fixo; o superávit fiscal primário elevado, com declínio da relação dívida/PIB; o controle da inflação; e a forte recuperação da atividade econômica. Foram destaque, também, o controle dos gastos públicos e a redução da dívida externa, a criação do Comitê Gestor de Comércio Exterior, sob o comando do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e as atividades do Banco Central, que implementou uma política monetária discutível sobre o enfoque dos juros.

Também merecem ser lembrados: a expressiva valorização da Bolsa de Valores; a conclusão de acordos internacionais com a Índia, com o bloco da África Austral; e os concretos entendimentos com os países andinos. O Itamarati não enfraqueceu nas negociações com a União Européia e Alca, postergando esses acordos. Quanto ao Mercosul, este precisa ser fortalecido para ter melhor presença nas negociações internacionais.

O risco Brasil caiu a menos de 400 pontos e houve a grande vitória no superávit da balança comercial, com exportações em torno de US$ 95 bilhões e saldo de US$ 33 bilhões.

O aumento do salário mínimo para R$ 300,00 e a correção da tabela do imposto de renda em 10% impulsionarão a economia interna.

O Poder Legislativo também fez sua parte, aprovando normas que definem, esclarecem e facilitam o objetivo de obter o desenvolvimento sustentável. O Congresso aprovou a Lei de Inovação, a criação da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), a minirreforma da Previdência do setor público, a PPP (Parceria Público Privada), ainda a ser regulamentada, as mudanças no Código Tributário Nacional e a Lei de Falências. Também foram aprovadas a MP que dá status de ministro ao presidente do Banco Central, a MP que cria o ProUni e a Reforma Constitucional do Judiciário.

Neste ano, o Legislativo votará a Lei de Biossegurança, o projeto de atuação das agências reguladoras e terminará a reforma tributária. Na pauta estão, ainda, as Reformas Política e Trabalhista. É preciso concluir a votação da emenda constitucional que altera alguns pontos da Reforma da Previdência.

2005 inicia com expectativa de bons resultados, mas com certeza de que não será fácil, pois os juros e o spread estão altos, e ainda podem subir. O real valorizado, em torno de R$ 2,70 por dólar; e, uma previsão de inflação de 5,3%, são fatores que podem conter o desenvolvimento.

Acompanhando o processo evolutivo, em 2004, o setor eletroeletrônico comemorou crescimento nominal de 24%, aumentando seu faturamento para quase R$ 80 bilhões.

Há que se lembrar que as expressivas majorações registradas nos preços dos insumos, como o aço, o cobre, os produtos plásticos e as embalagens, influenciaram os preços dos produtos, inflando em 12% os custos e reduzindo para 11% o crescimento real do setor. Para este ano, já estamos projetando um crescimento nominal da ordem de 18%, o que elevará o faturamento para quase R$ 95 bilhões.

Acreditamos que o crescimento virá. No entanto, queremos superar as expectativas e, para isso, é importante a ousadia de todos nós e, principalmente, do governo.

Assim, é mais do que necessário que o governo estimule os investimentos em infra-estrutura, recuperando as precárias estradas, o transporte ferroviário, hidroviário, marítimo e os portos, evitando gargalos que oneram os custos dos produtos e que impedem o escoamento da produção e o crescimento do país.

Além disso, precisamos de uma reforma no sistema tributário, que amplie a base de contribuintes e que acabe com a guerra fiscal entre os estados e regiões.

Os juros, em 17,75%, continuam extremamente elevados, fora da realidade internacional, e têm que retomar a queda gradual.

A Política Industrial, que dá prioridade aos semicondutores, bens de capital e software, agora deverá ser efetivamente implementada. Que a mesma prioridade dada aos semicondutores seja estendida para os demais componentes eletrônicos, atraindo novos investimentos e incentivando as indústrias já existentes no país.

Quanto aos investimentos externos, o Brasil só os conseguirá se criar um ambiente de previsibilidade e estabilidade, que gere confiança nos investidores. Que se acabem com as burocracias, que emperram as ações, desde do Presidente da República até de cada um de nós.

Em 2005 haverá grandes esforços para que as exportações atinjam os US$ 100 bilhões, com saldo comercial de US$ 20 bilhões, para o que muito ajudaria desonerar as empresas da carga tributária.

Há muito para ser feito. O futuro que desejamos não será, no entanto, construído somente pelos poderes da República, mas por toda a sociedade. Será feito por nós.