Título: EUA mudam foco no Iraque
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/01/2005, Internacional, p. A7

Incapaz de garantir seu objetivo de levar a democracia ao Iraque através da eleição de 30 de janeiro, o governo americano está apressando uma campanha de controle de danos para diminuir as expectativas em relação à votação. Com temores de uma baixa participação entre árabes sunitas devido a boicote e à intimidação dos insurgentes, Washington já não classifica a eleição como um catalisador para disseminar a democracia no mundo árabe.

Em vez disso, autoridades dos Estados Unidos enfatizam agora o processo político depois da eleição.

- Claramente, não vemos esta a própria eleição como um ponto pivô - disse o vice-secretário de Estado, Richard Armitage, à rede NPR na sexta-feira. - É o começo do processo em que os iraquianos vão escrever uma constituição e no final do ano votarão de verdade por um governo permanente.

Quase dois anos depois da Operação Liberdade do Iraque, a insurgência nas áreas de maioria sunita forçou a Casa Branca a preparar o público americano para uma eleição que chamou de ''menos que perfeita''. O governo de George Bush há meses vem baixando as expectativas sobre a eleição, começando com a advertência feita em setembro pelo secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, de que áreas violentas do país poderiam ser excluídas.

E, a menos de duas semanas da votação, o governo reconhece que, apesar das ofensivas militares para garantir segurança na eleição, o medo dos tiros e explosões pode afastar até 20% da minoria sunita das urnas.

Em vez de vangloriar a primeira eleição nacional livre e justa no Iraque em décadas, o governo Bush agora limita sua ambição na manutenção da data do pleito.

- Acho que uma eleição de sucesso será aquela em que a maioria da população tenha a chance de votar. Mesmo com a possibilidade de não vermos os mesmos números na área sunita vamos seguir adiante e usar os resultados desta eleição para continuar - disse o secretário de Estado, Colin Powell.

O político fez campanha junto aos xiitas, oprimidos durante o regime do sunita Saddam Hussein, para incluir os sunitas no governo. Mas o chefe da diplomacia dos EUA reconhece que a manobra pode inflamar a resistência.

- A insurgência não sumirá. Na verdade, talvez os insurgentes fiquem mais incentivados com o resultado da eleição - analisou.

Mas críticos da política dos EUA para o Iraque reclamam que as eleições para a assembléia de 275 membros que deverá esboçar uma Constituição e escolher um governo de transição estão tão prejudicadas que não serão legítimas.

- Estas eleições são uma piada - diz Juan Cole, professor de história moderna do Oriente Médio na Universidade de Michigan. - O governo Bush criou a pior propaganda possível para a democracia porque a percepção no Oriente Médio é de que democracia significa que você receberá um país onde tudo está fora de controle.