Título: Como os rabos dos cavalos
Autor: Ubiratan Iorio
Fonte: Jornal do Brasil, 17/01/2005, Outras opiniões, p. A11

O crescimento do PIB em 2004 vem sendo estrepitosamente trombeteado pelo governo e seus acólitos como se nossa economia estivesse de fato ingressando em um ciclo virtuoso de desenvolvimento sustentado. Nada mais falso do que uma afirmativa deste tipo! Primeiro, porque o crescimento sustentado não se pode julgar em um ano ou dois, pois é um processo de longo prazo, que exige investimentos ano após ano, com vistas à ampliação do estoque de capital e da capacidade de gerar oferta da economia. Segundo, porque, mesmo com o ''espetacular'' desempenho da economia em 2004, apenas voltamos ao nível do PIB de 2002, ou seja, damos três passos para trás e agora demos três para a frente. E terceiro, porque toda essa aparente folia não passa de uma recuperação de capacidade ociosa induzida pela demanda, ou seja, de uma flutuação cíclica, fenômeno de curto prazo e que nada tem a ver com o crescimento. O verdadeiro crescimento é algo muito mais profundo do que a vã filosofia petista consegue alcançar. Para início de conversa, não é o Estado que deve conduzi-lo, como acreditam os atuais ocupantes do poder, mas o processo de mercado, a livre iniciativa, que nada mais é do que a vontade de homens e mulheres de crescerem na vida com o seu suor, esforço e luta. E se há algo em que o governo decididamente não acredita é no mercado, que, para ele, não passa de um bando de especuladores de gravata auferindo ganhos fáceis e explorando os mais pobres...

Como pode a economia crescer ano após ano, se o Estado controla quase tudo o que fazemos; se nos impõe o absurdo prazo médio de 152 dias para nos autorizar a abrir um negócio, por mais simples que seja; se suga o nosso esforço com uma carga tributária de 40% do que produzimos, com 70 impostos, taxas e contribuições; se, com toda essa tungada, nada nos dá em troca; se onera a contratação de trabalhadores em mais de 100% para sustentar seu fausto inútil; se não consegue cortar os seus gastos (ao invés disso, os amplia) e, sendo assim, obriga qualquer diretoria responsável do Banco Central a manter taxas de recolhimento compulsório que cerceiam o crédito a praticar taxas de juros que sufocam qualquer iniciativa; se quase toda a parca poupança privada é destinada a financiar esses gastos na bola de neve da dívida interna; se a poupança externa é vista com extrema desconfiança e, no caso da infra-estrutura e da energia, quase que como inimiga nacional; se torra verbas em programas assistencialistas sem a menor possibilidade de êxito, a par de não atacarem as causas da pobreza; se propõe aberrações como a das PPPs, o ''capitalismo'' petista, sem riscos para maus empresários e com ônus incalculáveis para o Tesouro no longo prazo, além de representarem um perigo no que se refere à responsabilidade fiscal de governos futuros; se, enfim, acredita que Cuba e Venezuela são dois exemplos a serem seguidos e propõe aberrações autoritárias como a Ancinav, algo como um fabricante de lâmpadas propondo uma lei para vedar janelas, portas e frestas, para que o concorrente - o sol - não possa entrar?....

Este é um governo que ainda crê no canto da sereia do socialismo e que, aos poucos, sem que a população o perceba, o vem implantando no Brasil, na cara, na barba e nos olhos de todos, sem revolução, sem sangue, mas com determinação! Dizer que o crescimento sustentado, diante de um quadro desses, é impossível, é ser tão-somente realista.

Quando, como qualquer jovem, eu cometia as minhas estripulias, meu saudoso pai sempre dizia: ''Rapaz, o teu juízo está crescendo como o rabo dos cavalos: pra baixo!''

Pois é assim que o Brasil está crescendo, sob a égide do atual governo...