Título: Distritais acusam governo de patrocinar trampolins
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 17/01/2005, Brasília, p. D1

A base governista na Câmara Legislativa não esconde a insatisfação com o Governo do Distrito Federal. Antigos aliados do governador Joaquim Roriz sentem-se desprestigiados em relação a membros que compõem o Executivo. Distritais acusam secretários, administradores e ocupantes de cargos estratégicos no Buriti de, sustentados pelo apoio de Roriz, alavancarem um processo de achincalhe do Legislativo local. E os acusam, em especial, de usarem suas funções como um trampolim político. O discurso dos membros do governo, porém, parece ensaiado. Todos evitam comentar possíveis candidaturas à Câmara Legislativa e igualmente todos juram que seguirão exclusivamente a orientação de Roriz.

O mais criticado pelos deputados é o administrador de Brasília, Clayton Aguiar. Em entrevista ao JB, publicada no dia 3 deste mês, o ex-candidato a deputado distrital pelo PSD reprimiu a criação de ''leis irresponsáveis'', como a de autoria do deputado Jorge Cauhy (PFL), que permite a instalação de quiosques de até 250 m², e uma outra de José Edmar (PMDB), que autoriza a permanência de ambulantes na passarela entre o Conic e o Conjunto Nacional. Ambas, citadas por ele, estariam colaborando para formar a imagem negativa da Casa com a opinião pública. Ele acredita em ''maiores renovações'' nas próximas eleições.

Candidato em 2002, Clayton obteve 3.358 votos. Com relação ao pleito de 2006, porém, prefere não confirmar sua provável candidatura.

- Com a campanha que fiz ficaria difícil ganhar. Não colei cartaz, não fiz boca de urna nem prometi lotes, coisa que muitos fizeram e se elegeram. Tentar de novo não faz parte de minhas aspirações agora. Não tenho apego ao poder, nem pretendo fazer carreira - diz Clayton, ressaltando que desde 1988 é amigo de Roriz, e nunca recebeu críticas dele por suas declarações.

- A legitimidade para disputar cargos políticos é indiscutível. O problema é a pessoa utilizar o cargo público, a sustentação de um governo, para hostilizar a Câmara, destruir a imagem dos deputados - alfineta Pedro Passos, líder do PMDB na Casa.

Desde que assumiu a administração de Ceilândia - maior colégio eleitoral do DF - sob o apadrinhamento de Roriz, Rogério Rosso, ex-chefe da Agência de Desenvolvimento Econômico do GDF, também tem despertado um certo ciúme entre os distritais. Alguns apostam inclusive na inclusão do nome de Rosso em uma chapa de sucessão ao Buriti. O administrador, porém, não foi encontrado pelo JB para comentar.

O secretário de Solidariedade, Milton Barbosa, apontado como possível candidato em 2006, garante que mantém um bom relacionamento com os distritais. Membro do GDF desde 1999 - passou pelas administrações de Riacho Fundo e Ceilândia - e filiado ao PSDB, mesma legenda da vice-governadora Maria de Lourdes Abadia, Milton não descarta as chances de participar do próximo pleito.